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Maus bofes
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Considero irrelevante a discussão sobre o episódio de tortura sofrida por um ex-padre do Maranhão. Que ele foi torturado, foi. Os
documentos da época são definitivos.
Que o policial Campelo tenha sido o
responsável pelas sessões de tortura,
ainda de acordo com os documentos
da época, é inquestionável.
Discutir se a tortura foi de pau-de-arara ou não, se Campelo estava ou
não estava presente fisicamente no
momento das porradas (que os laudos
da época atestam), é também secundário.
Inútil tentar desqualificar o testemunho do ex-padre. Na época, o caso
teve repercussão no exterior. Quem
militava nos movimentos clandestinos
sabia que um padre havia ido para o
pau-de-arara no Maranhão. Os depoimentos recentes de policiais, que agora pretenderam limpar a barra de
Campelo, são expressões de ostensivo
puxa-saquismo. Não se podem equiparar laudos (eu disse ""laudos") de
1970 com depoimentos feitos na semana que passou. O oportunismo desses
depoentes é obsceno.
Campelo apareceu nu e cru, com cara e comportamento de quem tem
maus bofes. Não é de hoje essa acusação: no Maranhão sabia-se que a Polícia Federal, chefiada por ele, era das
mais truculentas daquele tempo.
Nesse episódio, ficaram mal, além
dos bofes de Campelo, os governistas
-que tentaram inocentar o policial
que torturava ou deixava torturar- e
o próprio presidente da República,
que, contra a evidência dos documentos de 1970, insistiu em nomeá-lo para
a direção de um órgão federal.
A sustentação do governo perdeu a
máscara, definitivamente. É um ajuntamento, um bando de idólatras do
poder -seja ele qual for. E seja como
esse poder se manifestar.
E FHC, seguindo seu temperamento,
que os arautos do Planalto classificam
de conciliador, revelou aquilo que sabemos. Não tem maus bofes. Tampouco tem bons bofes. Simplesmente, como bom tucano, não tem bofes.
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