|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
Crônica de uma
transição
anunciada
O presidente Fernando Henrique acabou cedo o mandato. As
dificuldades orçamentárias e as metas
fiscais impostas pelo FMI determinaram a paralisação da administração
pública. A eleição fez o resto. O governo vive de saraus oratórios no Planalto, lançando programas.
A nota do Ministério do Exército,
publicada no dia 12 deste mês, é um
retrato de como se liquidou o país. A
dramática situação das Forças Armadas enche de vergonha o Brasil. O país,
que diz ser exemplo de riqueza, pujança e estabilidade, nunca esteve tão instável e vulnerável. Não pode mais nem
recrutar jovens para o serviço militar.
O Exército reduz os dias e horas de
trabalho nos quartéis, suspende o pagamento do auxílio-transporte e do
auxílio pré-escolar para os militares.
Os recrutas, quando deixam a tropa,
têm de devolver botinas, fardas, toalhas -tudo para uso dos novos que
ingressam. Saem de pés descalços e
magoados com a situação do país. Isso, como diz o íntegro jornalista Boris
Casoy, "é uma vergonha".
A situação tornou-se tão crítica que
o comandante da força terrestre suspendeu as comemorações do Dia do
Soldado (25 de Agosto) e do Dia da Independência (7 de Setembro). A data
nacional, se a situação permanecer,
será um pelotão de porta-bandeira,
um toque de silêncio e o retrato de um
Brasil liquidado.
Alerta o general Gleuber Vieira que
unidades podem ser desativadas.
Criou-se uma mentalidade jurássica
no país -felizmente restrita- contra
as Forças Armadas, julgadas sob o ângulo de dispensáveis. Até no governo
essa mentalidade pontifica. Agrega-se
a essa visão os ressentimentos de 1964.
A Revolução de 64, como a de 1922 e
a 1930, a Revolta da Armada, o Estado
Novo de Vargas são páginas viradas
que pertencem ao passado.
A instituição, o Exército brasileiro, a
quem o país tanto deve, coberto do
respeito mundial, a única tropa sul-americana a lutar pela liberdade na
Segunda Guerra Mundial, não pode
ser vítima desse tratamento discriminatório. O que se deve condenar é o
militarismo, repito, a agregação de
poder político ao poder militar, que já
desapareceu do Brasil.
A transição democrática foi feita
com os militares e não contra os militares, que estão voltados para o profissionalismo, com uma posição correta
e digna.
Sitiá-los, para que se enfraqueçam
por falta de suprimentos e recursos, é
trabalhar contra o Brasil, contra a pátria. Um país de Forças Armadas fracas é um país fraco. Não tem voz, não
tem respeito.
Mas o governo, também, dá mostra
de que acabou quando inicia a transição. A convocação do deputado Aloizio Mercadante pelo presidente do
Banco Central para discutirem as medidas de passagem do poder é a maior
confissão de derrota.
Para consertar essa chamada a Mercadante, Armínio Fraga convidou
também Ciro (já em segundo nas pesquisas) e (sic) José Aníbal!
A conversa já se sabe. Ciro diz: "Armínio, veja o atoleiro em que vocês jogaram o Brasil". Mercadante: "Fique
tranquilo, Lula não vai prender ninguém". E José Aníbal: "Armínio, não
sei por que estou aqui. Está na hora de
vaca não conhecer bezerro, como dizia o Vitorino Freire. O FHC vai dar
aulas em Paris. E nós?"
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Marcelo Beraba: Erros e erros Próximo Texto: Frases
Índice
|