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São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A sociedade que almejamos

Não se trata de uma "utopia", mas de algo que precisa acontecer. Temos de unir energias para que possamos construir a sociedade solidária.
É necessário, em primeiro lugar, reconhecer e promover o respeito à dignidade da pessoa humana à luz do Evangelho. Não basta simplesmente falar de dignidade. Cada homem e cada mulher devem ser tratados de acordo com a dignidade da filiação divina que nos constitui em irmãos e irmãs. No entanto grande parte da população não tem acesso a condições de vida compatíveis com o exercício dessa dignidade.
É direito inalienável que a promoção humana seja garantida a todos. Temos de nos empenhar para alcançar uma convivência fraterna, pacífica, marcada pela justiça e sem preconceitos nem ressentimentos.
Nasce daí a exigência de iniciar o esforço de promoção social pelos mais pobres e excluídos. Vítimas da injustiça clamorosa, precisam ser eles os primeiros atendidos pela garantia de meios que lhes permitam conseguir a própria realização e desenvolvimento e colaborar para o bem comum.
Em todo o longo processo para construir a sociedade solidária, somos chamados a respeitar o direito e as instituições democráticas. O excesso de sofrimento diante das desigualdades e das injustiças sociais requer mudanças rápidas, mas que devem respeitar as leis, que, por sua vez, precisam se adequar sempre mais às exigências da justiça. É indispensável para isso que a economia e a política se submetam aos preceitos éticos. No esforço conjunto em busca da sociedade que almejamos, há urgências a serem assumidas em bem dos excluídos:
a) é questão de justiça nacional reparar as terríveis faltas do passado e reconhecer os direitos das populações indígenas do Brasil. Milhões de seus membros foram eliminados no decorrer dos séculos. Temos hoje a obrigação de assegurar a organização e o desenvolvimento adaptados às suas culturas, incluindo o quanto antes a demarcação e o título das terras.
b) a segunda urgência refere-se à problemática da terra. Estamos em atraso com o estabelecimento de um sistema justo de propriedade e de uso da terra. Há, aqui, um grave pecado de omissão que vem custando a vida de muitos concidadãos, vítimas do êxodo rural e do desencanto por causa da demora do governo em regulamentar a partilha da terra. Requer-se um plano nacional que, por meios legais e pacíficos, garanta ao homem e à mulher do campo condições de viver e de trabalhar com dignidade.
c) diante de um povo desnutrido e lesado em sua saúde, compreendemos a indiscutível precedência do atual programa Fome Zero, associado à atuação mais eficiente do Sistema Único de Saúde que estenda a todos e sem tanta espera os benefícios do atendimento conveniente.
d) não pode faltar a atenção aos encarcerados, cuja situação deprimente aguarda a revisão em profundidade do sistema prisional para que seja marcado pela justiça e pela recuperação do detento.
Essas e outras urgências exigem, no entanto, a mudança de mentalidade. Temos todos de nos educar para o espírito humanitário que nos leve a sair do egoísmo. Precisamos descobrir, diante de Deus, o verdadeiro sentido da vida terrena: a alegria de fazer o bem ao próximo e de cooperar na construção da sociedade fraterna que almejamos. Apesar das dificuldades e dos desafios, há ainda muita esperança no horizonte.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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