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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A sociedade que almejamos
Não se trata de uma "utopia",
mas de algo que precisa acontecer. Temos de unir energias para que
possamos construir a sociedade solidária.
É necessário, em primeiro lugar, reconhecer e promover o respeito à dignidade da pessoa humana à luz do
Evangelho. Não basta simplesmente
falar de dignidade. Cada homem e cada mulher devem ser tratados de acordo com a dignidade da filiação divina
que nos constitui em irmãos e irmãs.
No entanto grande parte da população não tem acesso a condições de vida compatíveis com o exercício dessa
dignidade.
É direito inalienável que a promoção
humana seja garantida a todos. Temos
de nos empenhar para alcançar uma
convivência fraterna, pacífica, marcada pela justiça e sem preconceitos
nem ressentimentos.
Nasce daí a exigência de iniciar o esforço de promoção social pelos mais
pobres e excluídos. Vítimas da injustiça clamorosa, precisam ser eles os primeiros atendidos pela garantia de
meios que lhes permitam conseguir a
própria realização e desenvolvimento
e colaborar para o bem comum.
Em todo o longo processo para
construir a sociedade solidária, somos
chamados a respeitar o direito e as instituições democráticas. O excesso de
sofrimento diante das desigualdades e
das injustiças sociais requer mudanças rápidas, mas que devem respeitar
as leis, que, por sua vez, precisam se
adequar sempre mais às exigências da
justiça. É indispensável para isso que a
economia e a política se submetam
aos preceitos éticos. No esforço conjunto em busca da sociedade que almejamos, há urgências a serem assumidas em bem dos excluídos:
a) é questão de justiça nacional reparar as terríveis faltas do passado e reconhecer os direitos das populações
indígenas do Brasil. Milhões de seus
membros foram eliminados no decorrer dos séculos. Temos hoje a obrigação de assegurar a organização e o desenvolvimento adaptados às suas culturas, incluindo o quanto antes a demarcação e o título das terras.
b) a segunda urgência refere-se à
problemática da terra. Estamos em
atraso com o estabelecimento de um
sistema justo de propriedade e de uso
da terra. Há, aqui, um grave pecado de
omissão que vem custando a vida de
muitos concidadãos, vítimas do êxodo rural e do desencanto por causa da
demora do governo em regulamentar
a partilha da terra. Requer-se um plano nacional que, por meios legais e pacíficos, garanta ao homem e à mulher
do campo condições de viver e de trabalhar com dignidade.
c) diante de um povo desnutrido e
lesado em sua saúde, compreendemos a indiscutível precedência do
atual programa Fome Zero, associado
à atuação mais eficiente do Sistema
Único de Saúde que estenda a todos e
sem tanta espera os benefícios do
atendimento conveniente.
d) não pode faltar a atenção aos encarcerados, cuja situação deprimente
aguarda a revisão em profundidade
do sistema prisional para que seja
marcado pela justiça e pela recuperação do detento.
Essas e outras urgências exigem, no
entanto, a mudança de mentalidade.
Temos todos de nos educar para o espírito humanitário que nos leve a sair
do egoísmo. Precisamos descobrir,
diante de Deus, o verdadeiro sentido
da vida terrena: a alegria de fazer o
bem ao próximo e de cooperar na
construção da sociedade fraterna que
almejamos. Apesar das dificuldades e
dos desafios, há ainda muita esperança no horizonte.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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