São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Emenda Frankenstein, artigo caranguejo
JORGE BORNHAUSEN
Dedicado atentamente à leitura minuciosa da evolução da reforma da Previdência -informado pela liderança do PFL, que, competentemente, conduz a oposição na Câmara-, conferindo pessoalmente cada versão do que poderia vir a ser o texto final, surpreendi-me quando, após a aprovação global, verifiquei que havia sido revogado o parágrafo 10 do art. 201 da Constituição. Aliás, trata-se da revogação de uma emenda constitucional aprovada em 1998 e ainda não regulamentada. Ora, no momento em que o Estado brasileiro se revela -e o próprio governo petista confirma essa visão- paralisado até na execução de políticas sociais de emergência, por falta de recursos, como pode se explicar o abandono de uma oportunidade de parceria com a iniciativa privada? Por que deixar de aplicar no país um paradigma de prática universal bem-sucedida e que pode nos retirar da vanguarda nas estatísticas de acidentes de trabalho? O seguro privado de acidentes de trabalho envolve os operadores na pesquisa e promoção de meios de segurança do trabalho, através de normas e equipamentos, pois lhes interessa primordialmente reduzir os riscos. Tal empenho das empresas seguradoras atende ao interesse dos trabalhadores, que ficam mais bem protegidos -a preocupação essencial deve ser evitar acidentes de trabalho-, e aos empregadores permite negociar os custos, graças à concorrência. Como se vê, não há componentes ideológicos na questão, nem mesmo de abandono do poder regulador e fiscalizador do Estado. Também não há interesses monopolísticos em jogo, pois a competição na área de seguros é muito grande. Por que, então, a reestatização? A primeira indicação é de que foi obra da sabotagem recalcitrante de grupos petistas que corroem por dentro a própria administração petista. A reforma da Previdência foi apresentada inicialmente como um projeto para dar sustentação ao sistema de aposentadorias e pensões, atuarialmente ameaçado de colapso. O que resultou, porém, com o abandono de princípios básicos para atender pressões e ameaças, foi o recurso a idéias estapafúrdias para preencher o vazio dos dispositivos preteridos. A redação final da reforma, como no caso desse artigo pé de caranguejo, que fará o monstro andar para trás, mostra-nos sua deformidade. Não foi muito além de punir, sem critérios de justiça social e cláusulas de transição, funcionários, aposentados e pensionistas que não tiveram voz, porque a CUT e o PT , que sempre os utilizaram, agora, no poder, lançam-nos ao mar. O governo não está fazendo reformas, mas meias-solas. Não sabe usar os instrumentos democráticos de que dispõe nem percebe que o país já ultrapassou o círculo de giz do esquerdismo preconceituoso e anacrônico em que está confinado. Jorge Bornhausen, 65, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Romeu Chap Chap: Habitação, uma questão emergencial Índice |
|