São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Stálin não morreu
JOSÉ CARLOS ALELUIA
O presidente e alguns de seus principais ministros têm dito, com freqüência, que as críticas da imprensa e da oposição, especialmente as denúncias de escândalos no governo, são futricas irresponsáveis. E, mais, que os autores dos reparos à sua administração estão "fazendo figa" e "urucubaca" para o governo não dar certo, que a crítica significa torcer contra o governo e contra o país. Nenhum governo, em tempos de democracia, aplicou tal garrote nos jornalistas. Só mesmo em períodos de escancarado autoritarismo se ousou chegar a esse grau de intimidação. O que de mais parecido ocorreu no país foi o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, da era Vargas, que controlava com mão de ferro a produção audiovisual, os jornais e os jornalistas. Curiosamente, o PT andou propondo a mudança do nome da ala Felinto Müller, do Senado, com a justificativa de que o ex-senador chefiou a polícia da ditadura do Estado Novo. Se vingar a proposta de ressurreição do DIP, na pele do Conselho de Jornalismo, talvez o novo nome da ala Felinto Müller, para fazer jus ao atual patrono, devesse ser Luiz Inácio Lula da Silva, ou ainda, quem sabe, ministro José Dirceu. Afinal, em Brasília muita gente recita o refrão "Stálin não morreu, encarnou no Zé Dirceu". O Brasil não precisa de nenhum Conselho Federal de Jornalismo. Primeiro porque já temos a ABI, instituição que sempre lutou contra qualquer tipo de censura e restrição à liberdade de opinião. Segundo, o Brasil está equipado com leis capazes de punir quaisquer excessos praticados pelos meios de comunicação. O jornalismo investigativo foi uma das melhores conquistas da democracia que se instalou no país, com o fim do regime militar. Por causa dessa ação livre da imprensa, um presidente da República foi mandado embora para casa e o Congresso cassou parlamentares corruptos. Graças ao mesmo jornalismo investigativo, que é um exemplar fruto da liberdade de imprensa, o Brasil ficou sabendo do carrossel de escândalos da era PT. Todos os governos brasileiros, em épocas de democracia, receberam críticas, algumas muito pesadas, e, justiça seja feita, muitas vezes graças ao espírito investigativo e à combatividade do PT. Mas o PT e o presidente da República passaram a entender que o seu governo não pode ser criticado. Se a oposição faz oposição, é urucubaca. Se a imprensa denuncia, é futrica irresponsável. Logo, mordaça nela. A democracia é o regime da tolerância, do debate, do conflito de opiniões e pontos de vista. Não é tentando calar a imprensa e colocando uma coleira na produção audiovisual que vamos aperfeiçoar nossa democracia; muito menos ignorando a Justiça e a Constituição, que garantem à imprensa a voz livre, matéria-prima básica do seu exercício e da consciência democrática do país. José Carlos Aleluia, 56, deputado federal pelo PFL-BA, é o líder do partido na Câmara. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Aldo Rebelo: Um projeto de interesse público Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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