São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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QUEM PROCESSA

O procurador Luiz Francisco de Souza, que pediu abertura de processo contra um grupo de pessoas próximas ao candidato à Presidência José Serra, vem perdendo credibilidade. Suspeitas de motivação política em seus procedimentos e uso de artifícios indevidos acrescentaram nódoas aos feitos reconhecidos de seu currículo -como a participação no desbaratamento, no Acre, da quadrilha do deputado cassado Hildebrando Pascoal.
Luiz Francisco foi filiado ao PT até 98. São notórios, em seu proceder, um esquerdismo messiânico e o apego a meios heterodoxos de administração da justiça. No ano passado, protagonizou um acontecimento deletério para a imagem do Ministério Público. Gravou e divulgou conversa reservada em que o então senador Antonio Carlos Magalhães indicava ter havido quebra do sigilo da votação em que Luiz Estevão perdeu seu mandato de senador. Para tentar justificar o ato, o procurador usou um argumento à George W. Bush: teria agido preventivamente, para evitar que ACM saísse a divulgar uma versão distorcida do encontro.
A denúncia ora em questão se baseia em informações publicadas pela Folha há quatro meses. Trata-se do caso em que o então diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, que foi arrecadador de fundos para campanhas tucanas, teria intercedido para reduzir a dívida junto ao banco de um empresário que foi sócio e é contraparente de José Serra. Há indícios de que ao menos uma transação lesiva aos cofres e ao interesse públicos ocorreu no episódio.
Luiz Francisco, a três semanas do primeiro turno, reuniu a imprensa para anunciar o que era apenas uma intenção de processar. O procurador diz não possuir prova que envolva José Serra diretamente no caso. Mas tem sido suficientemente ambíguo para não deixar de mencionar o nome do tucano dezenas de vezes na ação e para afirmar que Serra teria sido beneficiário indireto das transações. Luiz Francisco, portanto, criou um fato político-eleitoral.
Até o dia 6 de outubro, provavelmente nada nesse caso poderá ser esclarecido. Já a notícia do processo tem potencial para influir nas decisões de voto. A melhor maneira de evitar que haja dividendos e prejuízos eleitorais injustos a partir desse episódio é expor criticamente todas as suas facetas. E o histórico, infeliz no passado recente, das atuações de Luiz Francisco de Souza é uma delas.



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