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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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MARCELO BERABA

A alma do negócio

RIO DE JANEIRO - Um dos vícios que igualam praticamente todos os governos é a ênfase obsessiva em publicidade. Tanto faz o partido, não se governa mais sem propaganda.
Mesmo em períodos de crise aguda, como agora, quando falta dinheiro para as políticas estruturais (educação, saúde, segurança) e para os programas compensatórios, mesmo aí a grana para a divulgação de feitos oficiais, relevantes ou irrelevantes, está sempre garantida.
A justificativa é nobre -prestar contas e manter o cidadão informado sobre seus direitos-, mas encobre a compulsão marqueteira que nos bombardeia 24 horas por dia.
Para tirar melhor proveito da auto-promoção, os governos criam grandes estruturas profissionais, controlam redes de comunicação, pagam por anúncios disfarçados de reportagens, patrocinam novelas ou escolas de samba. Vale tudo.
Há uma confusão proposital de conceitos e o uso indiscriminado de métodos heterodoxos nas "políticas de comunicação" com o claro objetivo de garantir taxas artificiais de popularidade.
Curioso é que, quanto mais os governos aumentam seu poder de fogo em comunicação, menos eficientes e transparentes ficam.
A internet, uma das novas ferramentas que poderiam estar sendo bem utilizadas para democratizar a circulação de informações oficiais, ainda é muito mal aproveitada, como demonstrou a pesquisa feita pelo caderno Informática da Folha, na quarta-feira.
Se quisessem, os governos poderiam usar as novas tecnologias como canais de difusão de informações, de acesso a serviços e de controle social das políticas públicas. Não é difícil nem caro. Mas isso não dá visibilidade e aumentaria as cobranças.
Deve haver alguma relação entre gastos imorais em propaganda oficial, falta de transparência, ineficiência e corrupção. Deve haver.


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