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MARCELO BERABA
A alma do negócio
RIO DE JANEIRO - Um dos vícios que igualam praticamente todos os governos é a ênfase obsessiva em publicidade. Tanto faz o partido, não se
governa mais sem propaganda.
Mesmo em períodos de crise aguda,
como agora, quando falta dinheiro
para as políticas estruturais (educação, saúde, segurança) e para os programas compensatórios, mesmo aí a
grana para a divulgação de feitos oficiais, relevantes ou irrelevantes, está
sempre garantida.
A justificativa é nobre -prestar
contas e manter o cidadão informado sobre seus direitos-, mas encobre
a compulsão marqueteira que nos
bombardeia 24 horas por dia.
Para tirar melhor proveito da auto-promoção, os governos criam grandes estruturas profissionais, controlam redes de comunicação, pagam
por anúncios disfarçados de reportagens, patrocinam novelas ou escolas
de samba. Vale tudo.
Há uma confusão proposital de
conceitos e o uso indiscriminado de
métodos heterodoxos nas "políticas
de comunicação" com o claro objetivo de garantir taxas artificiais de popularidade.
Curioso é que, quanto mais os governos aumentam seu poder de fogo
em comunicação, menos eficientes e
transparentes ficam.
A internet, uma das novas ferramentas que poderiam estar sendo
bem utilizadas para democratizar a
circulação de informações oficiais,
ainda é muito mal aproveitada, como demonstrou a pesquisa feita pelo
caderno Informática da Folha, na
quarta-feira.
Se quisessem, os governos poderiam
usar as novas tecnologias como canais de difusão de informações, de
acesso a serviços e de controle social
das políticas públicas. Não é difícil
nem caro. Mas isso não dá visibilidade e aumentaria as cobranças.
Deve haver alguma relação entre
gastos imorais em propaganda oficial, falta de transparência, ineficiência e corrupção. Deve haver.
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