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DEBATE ECONÔMICO
A política macroeconômica
brasileira está apoiada em três
pilares: taxa de juros elevada, para
cumprir a meta de inflação de 5,5%
em 2004 e de 4,5% em 2005, com tolerância de 2,5 pontos percentuais;
taxa de câmbio flutuante com livre
movimento de capitais, a fim de consolidar as contas externas; e superávit fiscal de 4,25% do PIB, para conter
o crescimento da dívida pública.
A decisão do Comitê de Política
Monetária (Copom) de elevar a taxa
Selic para 16,25% na semana passada, sinalizando que esse seria apenas
o início do processo de "ajuste",
trouxe para o debate a possibilidade
de se utilizarem outros instrumentos
para tentar evitar novos aumentos
dos juros. Uma dessas alternativas
seria promover um aumento da meta
de superávit fiscal de 2005 e aceitar
maior valorização da taxa de câmbio
para tentar facilitar o cumprimento
da meta de inflação sem comprometer o dinamismo econômico.
Essa alternativa pode fazer sentido
na lógica do modelo macroeconômico, mas não vai ao âmago do problema. A despeito de uma certa deterioração das expectativas de inflação
-de 7,3% para este ano e 5,6% para
o próximo, acima das metas, mas
dentro das margens de tolerância-,
não parece haver pressões inflacionárias generalizadas que justifiquem
políticas monetária e fiscal ainda
mais contracionistas. Essas pressões
localizadas se originam em tarifas de
serviços públicos indexadas, alta dos
preços do petróleo e de "commodities" e aumento de impostos e de
produtos de mercados oligopolizados.
Com a retomada do crescimento,
as empresas procuram recuperar
suas margens de lucro, mas não há
semelhanças nesse processo com a
escalada da inflação da década de
1980, sobretudo porque a situação
externa é bastante mais favorável. O
superávit comercial se aproxima de
US$ 31 bilhões, diminuindo as pressões sobre o câmbio e os preços.
Diante disso, seria mais coerente
aperfeiçoar o sistema de metas. Há
vários caminhos, como adotar o núcleo do índice de inflação, expurgando efeitos sazonais; ampliar o tempo
para o cumprimento da meta, sobretudo diante de choques de oferta; e
renegociar os contratos indexados
de tarifas públicas, substituindo o
IGP-M pelo IPCA ou por um índice
que reflita os custos do setor.
Ademais, a retomada do crescimento econômico, junto com a elevação de alguns tributos, tem permitido ao governo atingir sucessivos recordes na arrecadação e, portanto,
obter superávits fiscais maiores do
que as metas. Nos 12 meses encerrados em julho, por exemplo, o superávit primário foi de 4,65% do PIB.
O aumento dos juros dificulta também a gestão da dívida pública e impõe limites à expansão dos investimentos. Taxas mais altas sinalizam
aos empresários que o crescimento
poderá ter fôlego curto. Se a inflação
ameaçar subir, o BC precisará esfriar
a demanda, e as empresas adiarão
seus investimentos.
É imperioso fugir do dilema estabilidade ou crescimento. Para que a
meta de inflação seja compatível com
uma recuperação prolongada, seria
preciso que essa política fosse um
pouco mais razoável e flexível.
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