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UNIVERSIDADE PARA TODOS
O polêmico Programa Universidade para Todos (Prouni) foi
instituído pelo governo federal por
medida provisória, em desrespeito
ao compromisso de que seria submetido ao debate parlamentar. Apesar do encaminhamento criticável, a
proposta formulada pela equipe do
ministro da Educação, Tarso Genro,
traz benefícios parciais. Consiste em
condicionar a isenção de tributos
concedida a faculdades particulares à
destinação de vagas para estudantes
de baixa renda, deficientes físicos e
professores da rede pública que pretendam fazer um curso superior.
A participação no Prouni é obrigatória para as instituições que possuem estatuto de filantrópicas, que já
são obrigadas a destinar 20% de suas
receitas brutas em gratuidade, mas
de maneira um tanto genérica, dando margem a expedientes para tirar
partido do benefício fiscal sem contrapartidas claras e verificáveis. O
percentual de 20% é mantido, mas
será obrigatória a concessão de ao
menos uma bolsa integral para cada
nove alunos. O restante poderá ser
aplicado em atividades extracurriculares ainda indefinidas e bolsas de
pelo menos 50% da mensalidade.
As faculdades com fins lucrativos e
as sem fins lucrativos que não gozam
do status de filantrópicas podem
aderir ao programa. Para isso, terão
de oferecer bolsas em troca de isenção de tributos federais.
Segundo estimativas do MEC, uma
hipotética adesão total ao Prouni resultaria em renúncia fiscal equivalente a 15% dos gastos com o Fies, programa de bolsas do governo que empenha R$ 829 milhões neste ano.
Há, no entanto, problemas na proposta, a começar pelo fato de que o
poder público estará, no final das
contas, pagando para que estudantes
ingressem em escolas cujo compromisso com a qualidade acadêmica
por vezes é inexistente. É de esperar
que se exerçam as pressões legais para que esse quadro possa evoluir positivamente. Além disso, fica a sensação de que o governo vai buscando
caminhos alternativos e se conformando com as dificuldades para investir na melhoria e ampliação do ensino universitário público.
O Prouni não irá alterar o fato de
que o sistema educacional no Brasil
continua muito aquém do que um
processo sólido de desenvolvimento
econômico e social exigiria. O problema do acesso à educação deve ser
enfrentado desde seu início, ou seja,
do ensino fundamental deficiente
oferecido no país. Essa insuficiência
leva famílias de classe média a recorrer a escolas privadas e condena os filhos das mais pobres a uma formação que poderá colocá-los em desvantagem pelo resto de suas vidas.
Uma política de democratização do
ensino que se preze precisaria começar por mudar essa realidade básica.
Quanto à carreira acadêmica, é forçoso dizer que ela não é para todos,
ao contrário do que sugere o nome
do programa. É preciso que se criem
alternativas profissionalizantes capazes de assegurar condições competitivas no mercado de trabalho e
eliminar o interesse apenas formal
pelo diploma, em muitos casos apenas um papel que muito pouco atesta sobre a capacidade de quem o possui, mas ajuda o portador a cumprir
requisitos para ascender salarialmente no trabalho.
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