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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Viva a especulação!
A elevação da taxa básica de juros, em si, foi uma ducha de água
fria para quem estava pensando em
tomar dinheiro emprestado para investir.
Mais grave do que isso, porém, foi o
anúncio de que a elevação dos juros
nesta semana é apenas a primeira de
uma longa série de aumentos que terão lugar daqui para a frente. Não posso pensar em uma frase mais infeliz do
que essa.
Foi uma senha negativa para os investidores produtivos e um grande
presente para os especuladores. Com
isso, o Banco Central deu o seguinte
recado: "Prezados participantes da ciranda financeira, preparem-se para
ganhar muito dinheiro, porque a ciranda vai rodar -e muito".
Sei bem que a questão é técnica. É
parte da boa técnica, entretanto, não
fazer anúncios que orientam os investimentos para a especulação, tirando-os da produção. Os economistas estão
cansados de saber que os fatores psicológicos contam muito na formação
das expectativas e das decisões de investir.
Foi uma sinalização descabida e que
atendeu aos interesses de quem não
produz, em especial dos alquimistas
que se põem a fazer análises de riscos
na casa dos vizinhos. Esses devem estar felizes. Não só a taxa de juros aumentou como as autoridades monetárias prometeram que irão iniciar um
processo de aumentos seqüenciados
"para garantir o futuro".
Os gurus que hoje festejam a decisão
do Copom falam bem do Brasil e de
sua política econômica, anunciando
para o mundo que o país fez o que deveria ser feito. Gostaria de saber quantos deles recomendam aos seus clientes que venham produzir no país. Os
investimentos estrangeiros diretos
neste ano ficarão em torno de US$ 10
bilhões, enquanto o total para os países emergentes de todo o mundo chegará a US$ 230 bilhões.
Se estamos fazendo tudo certo, por
que eles não vêm investir em nossa
produção? Por que eles se negam a nos
ajudar a criar empregos para os brasileiros? Qual é o significado do seu
aplauso?
São perguntas que me intrigam. A
resposta que dou a mim mesmo é
muito simples. Para os especuladores,
estamos fazendo tudo certinho para
encher os seus bolsos! É por isso que
eles aplaudem. E o lado real da economia brasileira continua sujeita às lamentáveis políticas de "stop and go",
que arrocham os produtores e consumidores toda vez que eles se põem a
trabalhar sério, a gerar emprego e a
ativar a economia.
É claro que as teorias dos defensores
de juros altos são sofisticadas. Mas seu
propósito é simples. Eles procuram
provar que o Brasil não pode crescer,
porque isso instiga a inflação. E daí para o amargo remédio é um pulo: "Não
deixem a economia se aquecer. Aumentem os juros. Aniquilem os consumistas. Segurem os produtores".
Está na hora de darmos um basta.
Temos de nos livrar dos sofismas maliciosos de quem só pensa em si e no
enriquecimento sem trabalho. Repito
a minha pergunta aos defensores dos
juros altos: "Quantos de vocês estão
investindo na produção nacional?".
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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