São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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CLÓVIS ROSSI

Esculhambação no ar

SÃO PAULO - Estão no ar cenas explícitas da esculhambação total que é a política brasileira. De quebra, acompanham-nas cenas igualmente explícitas de como a liberdade da internet -inevitável e necessária- também pode contribuir para o esculacho. Refiro-me aos filmetes de propaganda partidária, quase anônimos, que foram ao ar em horário nobre pelo menos ontem e anteontem.
São na verdade panfletos contra o governo federal. Um acusa-o de cobrar dos estudantes o pagamento do crédito educativo, ao mesmo tempo em que dá bilhões aos banqueiros e até a países vizinhos.
O outro ataca também o agronegócio, a pretexto de defender o que seriam os "verdadeiros ruralistas", leia-se "a agricultura familiar".
Os panfletos não levam assinatura, mas remetem para diferentes endereços de internet. Aí é que digo que a internet contribui para a esculhambação. Qualquer um cria sua página e, a partir dela, sente-se livre para alvejar quem quer que seja. No momento, a vítima é o governo Lula. Amanhã serão outros, sem a menor dúvida.
Nada contra criticar o governo, qualquer governo. É o mais saudável dos exercícios. Mas, primeiro, é preciso botar o nominho nas críticas, até para que possa haver uma interlocução entre crítico e criticado ou para que este possa cobrar indenização quando a crítica ultrapassa os limites e vira ofensa.
O segundo ponto da esculhambação vem segundos após os filmetes: aparece a bandeira do PTB e a voz de um locutor chamando para um prêmio Ivete Vargas. Só quem presta muita atenção deduz que os panfletos devem ser também do PTB porque a voz é a mesma.
Ajuda-memória: o PTB é da base de apoio ao governo e um de seus expoentes, o ministro José Múcio, é também expoente do agronegócio, tratado como criminoso. Macunaíma ainda vai virar politicamente correto.

crossi@uol.com.br


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