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CESAR MAIA
Brasília, 50 anos
POLÍTICOS SENIORES, que viveram a República de 1946,
dizem que a melhor qualidade
daquela Câmara de Deputados em
relação à dos anos 90 era a sua localização no Rio. No Rio, profissionais de destaque em seus Estados,
eleitos, transferiam seus escritórios e mantinham sua atividade
profissional. Em Brasília, inevitavelmente se teria que chegar aonde
se chegou: um Parlamento -como
regra- de profissionais da política.
A transferência da capital para o
planalto central era exigência dos
republicanos, que carimbavam o
Rio como capital da monarquia. Os
debates em 1890 marcaram essa visão, e a Constituição de 1891 incluiu a transferência da capital para o planalto central, o que ocorreu
70 anos depois.
Faltando seis meses para o cinquentenário de Brasília, nada se sabe de pesquisas, estudos e análises
acadêmicas sobre a decisão, causas, desdobramentos e consequências. Preparam-se as esperadas comemorações com atos e exposições. Mas pouco se tem mergulhado no tema. Por exemplo. Políticos
que conviveram com JK garantiam
que a decisão, justificada como interiorização do país, na verdade foi
tomada pelo clima golpista que se
vivia no Rio, com a concentração
de quartéis das três forças armadas
e dos clubes militares. Qualquer
quartelada criava um clima de golpe. A posse de JK foi precedida de
três presidentes em poucas horas,
e de uma ação militar preventiva
dos generais Denys e Lott. A "república do Galeão" indicava a autonomia da Aeronáutica, incluindo a de
polícia judiciária no caso da rua Toneleros.
JK organizou o processo de mudança da capital em dois grandes
setores. As obras de edificações, logradouros e da infraestrutura urbana foram entregues à Novacap,
dirigida por Israel Pinheiro. E a
mudança da administração pública, seus órgãos, materiais, servidores e mobiliário, entregues ao GTB
-Grupo de Trabalho de Brasília,
dirigido por Felinto Maia. O cronograma foi milimetricamente cumprido e a sinergia destes dois setores permitiu que os edifícios públicos e de moradias terminassem no
momento de suas ocupações. A
mudança do Congresso inseriu-se
nestes dois setores e teve a supervisão do deputado Neiva Moreira.
Cinquenta anos depois -numa
primeira avaliação- se poderia dizer que a interiorização da capital
pouco afetou as diferenças regionais, econômicas e sociais. Mas o
poder político viveu um deslocamento de eixo. Dos oito presidentes da Câmara de Deputados até
1964, apenas um ficou fora do eixo
Sudeste-Sul, Samuel Duarte, da
Paraíba entre 1947-49. Dos 22 pós-Brasília, oito foram do Nordeste. O
cinquentenário de Brasília não pode passar sem um mergulho intelectual em seu processo. Há tempo.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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