São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Fracasso no horário nobre

SÃO PAULO - O "Fantástico", a revista dominical da Rede Globo, desmontou anteontem o programa que é a menina dos olhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Fome Zero (ou Bolsa-Família).
Para quem não viu, um resuminho: o programa visitou aleatoriamente três cidades de três Estados (Maranhão, Paraná e Mato Grosso). Comprovou facilmente que gente que não tem a mais leve necessidade de esmola pública não obstante a recebe. Gente até rica comparativamente.
Nas mesmas cidades, no entanto, gente que só não é mais pobre por impossibilidade física não consegue cadastrar-se, ou, cadastrada, ainda assim não recebe o benefício.
Mas não foi apenas o Bolsa-Família que a reportagem detonou com a frieza dos fatos. Detonou também o slogan "o melhor do Brasil é o brasileiro". Se é mesmo, estamos perdidos, porque o programa mostrou que um punhado de brasileiros é capaz de, literalmente, tirar a comida da boca de crianças miseráveis sem o mais leve pudor.
São pessoas da curriola dos prefeitos que fazem o cadastramento para os programas assistenciais. O que, por sua vez, prova que o Estado brasileiro continua precisando ser desprivatizado, urgentemente.
Era essa, aliás, a pregação do PT quando estava na oposição. Uma vez no governo, mostra que ou é inapetente ou é incompetente ou é impotente ou tudo isso de uma só vez para operar a desprivatização do Estado e colocá-lo de fato a serviço do público que dele necessita.
Chegou a ser patético o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) ao tentar explicar-se no "Fantástico". Agradeceu ao programa por ter revelado as falhas, no que parece simpática demonstração de humildade. Bonito. Mas seria muito mais bonito se tivesse tido a competência de descobrir os trambiques antes -e corrigi-los.
O programa só falhou num ponto: não foi capaz de localizar nenhum beneficiário da suculenta Bolsa-Juros do governo que esteja deixando de receber religiosamente em dia.


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