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CLÓVIS ROSSI
Fracasso no horário nobre
SÃO PAULO - O "Fantástico", a revista dominical da Rede Globo, desmontou anteontem o programa que
é a menina dos olhos do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, o Fome Zero (ou Bolsa-Família).
Para quem não viu, um resuminho:
o programa visitou aleatoriamente
três cidades de três Estados (Maranhão, Paraná e Mato Grosso). Comprovou facilmente que gente que não
tem a mais leve necessidade de esmola pública não obstante a recebe.
Gente até rica comparativamente.
Nas mesmas cidades, no entanto,
gente que só não é mais pobre por impossibilidade física não consegue cadastrar-se, ou, cadastrada, ainda assim não recebe o benefício.
Mas não foi apenas o Bolsa-Família que a reportagem detonou com a
frieza dos fatos. Detonou também o
slogan "o melhor do Brasil é o brasileiro". Se é mesmo, estamos perdidos,
porque o programa mostrou que um
punhado de brasileiros é capaz de, literalmente, tirar a comida da boca
de crianças miseráveis sem o mais leve pudor.
São pessoas da curriola dos prefeitos que fazem o cadastramento para
os programas assistenciais. O que,
por sua vez, prova que o Estado brasileiro continua precisando ser desprivatizado, urgentemente.
Era essa, aliás, a pregação do PT
quando estava na oposição. Uma vez
no governo, mostra que ou é inapetente ou é incompetente ou é impotente ou tudo isso de uma só vez para
operar a desprivatização do Estado e
colocá-lo de fato a serviço do público
que dele necessita.
Chegou a ser patético o ministro
Patrus Ananias (Desenvolvimento
Social) ao tentar explicar-se no "Fantástico". Agradeceu ao programa por
ter revelado as falhas, no que parece
simpática demonstração de humildade. Bonito. Mas seria muito mais
bonito se tivesse tido a competência
de descobrir os trambiques antes -e
corrigi-los.
O programa só falhou num ponto:
não foi capaz de localizar nenhum
beneficiário da suculenta Bolsa-Juros
do governo que esteja deixando de
receber religiosamente em dia.
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