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FERNANDO CANZIAN
Transição sem fome
SÃO PAULO - É curiosa a transição a que assistimos, onde a principal discussão parece ser a da data da posse.
Dia 1º ou mais para a frente? Ou se o
presidente eleito gosta do Palácio da
Alvorada. Preferirá dormir no Torto?
Tem churrasqueira lá. Dúvidas.
Há uma onda gigantesca formada
na frente de todos, e as discussões,
"tricas e futricas", são banais.
A inflação deixou de ser uma
ameaça. É um fato, sobretudo para
os mais pobres. Alimentos subiram
mais de 4% só em outubro.
Empresas estrangeiras de primeiríssima linha dão as costas ao Brasil e
recebem aplausos de seus acionistas.
Alívio deles. O nosso se dá quando o
dólar cede de R$ 3,70 para R$ 3,55. Já
vamos dando certo de novo...
Estamos a seis (ou sete) semanas da
posse. Três já se foram desde que Lula, até hoje em êxtase, foi eleito. Não
há pressa para discutir mais detidamente o mundo real, em transe cada
vez mais nítido. Gente, empresas e
empregos sufocados.
FHC viaja e Lula também. Jantam
juntos. Elegante e astuto, o presidente entrega o cargo e a crise. É um craque. O eleito se comporta, feliz.
Lula foi eleito pelo cansaço. Mas
entra amarrado pela "honra aos
contratos" e não há pistas de como
vai quebrar a corrente. Apenas reafirma, em novo giro pelo país, os
compromissos políticos que assumiu.
ACM, Sarney, Itamar, Garotinho,
Ciro, pode nomear, estão todos lá.
Haverá tratamento privilegiado,
acordos, entendimento. Dizem que
Lula é bom negociador.
Apesar do mistério sobre políticas e
pessoas novas, surpresas, aqui, serão
dignas do nome. O espaço é conhecido. Os nomes, nem tanto. Mas a alquimia política resultará manjada.
No meio tempo, esgrime-se a fome
com palavras, cupons virtuais e trata-se de outras questões intrigantes,
que -aumentam as suspeitas-
não são só cortina de fumaça.
Se for no dia 6, será que Fidel vem?
Será aquecida a piscina no Torto?
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