São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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FERNANDO CANZIAN

Transição sem fome

SÃO PAULO - É curiosa a transição a que assistimos, onde a principal discussão parece ser a da data da posse. Dia 1º ou mais para a frente? Ou se o presidente eleito gosta do Palácio da Alvorada. Preferirá dormir no Torto? Tem churrasqueira lá. Dúvidas.
Há uma onda gigantesca formada na frente de todos, e as discussões, "tricas e futricas", são banais.
A inflação deixou de ser uma ameaça. É um fato, sobretudo para os mais pobres. Alimentos subiram mais de 4% só em outubro.
Empresas estrangeiras de primeiríssima linha dão as costas ao Brasil e recebem aplausos de seus acionistas. Alívio deles. O nosso se dá quando o dólar cede de R$ 3,70 para R$ 3,55. Já vamos dando certo de novo...
Estamos a seis (ou sete) semanas da posse. Três já se foram desde que Lula, até hoje em êxtase, foi eleito. Não há pressa para discutir mais detidamente o mundo real, em transe cada vez mais nítido. Gente, empresas e empregos sufocados.
FHC viaja e Lula também. Jantam juntos. Elegante e astuto, o presidente entrega o cargo e a crise. É um craque. O eleito se comporta, feliz.
Lula foi eleito pelo cansaço. Mas entra amarrado pela "honra aos contratos" e não há pistas de como vai quebrar a corrente. Apenas reafirma, em novo giro pelo país, os compromissos políticos que assumiu.
ACM, Sarney, Itamar, Garotinho, Ciro, pode nomear, estão todos lá. Haverá tratamento privilegiado, acordos, entendimento. Dizem que Lula é bom negociador.
Apesar do mistério sobre políticas e pessoas novas, surpresas, aqui, serão dignas do nome. O espaço é conhecido. Os nomes, nem tanto. Mas a alquimia política resultará manjada.
No meio tempo, esgrime-se a fome com palavras, cupons virtuais e trata-se de outras questões intrigantes, que -aumentam as suspeitas- não são só cortina de fumaça.
Se for no dia 6, será que Fidel vem? Será aquecida a piscina no Torto?


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