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São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2003

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"SPREAD" E CRESCIMENTO

Não deixa de ser um sinal auspicioso que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tenha mencionado a redução dos "spreads" bancários como o grande desafio que se apresenta na área financeira. Não há dúvida de que a diferença entre as taxas de captação e as cobradas no crédito tem sido extremamente elevada no Brasil.
Há diversas tentativas de explicação para o caso. Os bancos queixam-se dos tributos, dos depósitos compulsórios e dos riscos que a inadimplência representa diante das garantias precárias oferecidas ao credor.
É de mencionar ainda práticas oligopolistas (às quais o próprio presidente do BC fez referência), os altos patamares dos juros básicos e o endividamento público. De fato, aplicar em títulos governamentais remunerados por valores equivalentes aos da Selic pode ser uma oportunidade bem mais atraente para instituições financeiras do que oferecer crédito com "spreads" reduzidos.
É verdade que o governo tem procurado alternativas para reduzir taxas finais, como no empréstimo pessoal com garantia em folha salarial, e em programas de microcrédito. Em que pesem alguns resultados animadores, são iniciativas limitadas e ainda incipientes, que exigirão tempo para melhor apreciação.
Conceda-se maior peso a esse ou àquele argumento, o fato é que eles se entrelaçam para fazer com que os "spreads" sejam, de fato, exagerados, o que remete à renitente dificuldade de o sistema bancário atuar como financiador da economia real.
Tem, portanto, caráter estratégico o desafio citado pelo presidente do BC. A questão dos "spreads" não é um fato isolado. Ela está relacionada, em última instância, à criação de um ambiente estável propício aos negócios, ao crédito e ao investimento. Contra isso, conspiram, entre outros fatores, o elevado endividamento, a persistente vulnerabilidade externa, a insegurança regulatória e a irracionalidade tributária do país.
São empecilhos de monta, que precisam ser removidos. Abdicar dessa tarefa será prosseguir numa dinâmica medíocre e descontínua de resultados econômicos.


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