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FERNANDO RODRIGUES
Insensibilidade
BRASÍLIA - Em junho de 1988, o democrata Michael Dukakis tinha 17
pontos de vantagem sobre George
Bush na disputa presidencial nos
EUA. Em novembro, Dukakis perdeu
a eleição -entre outras razões, por
sua insensibilidade política.
Em um debate na TV, perguntaram ao democrata o que ele faria se
sua mulher fosse estuprada. Dukakis
respondeu como se não fosse com ele.
Disse ser necessário tomar atitudes
ponderadas, sem influência emocional. Nota mil como administrador,
nota zero como político. Foi reprovado nas urnas. Sumiu do mapa.
No Brasil, ocorre algo semelhante.
Alguns ministros do presidente Lula
produziram declarações como se estivessem na Suécia ao comentar o crime de assassinato cometido por um
adolescente contra um casal de estudantes em São Paulo.
O debate do momento é reduzir ou
não a maioridade penal de 18 para 16
anos. É evidente que essa medida não
deve ser a melhor nem a única solução para reduzir a criminalidade no
país. Ocorre que há um certo clima de
estarrecimento na sociedade. Convém a um governo -que é composto
por políticos, e não apenas por técnicos- respeitar a dor alheia.
Eis o que disseram dois ministros
inspirados em Michael Dukakis:
Márcio Thomaz Bastos (Justiça):
"Não se pode submeter pessoas que
estão em processo de formação ao
convívio terrível de um sistema penal
defeituoso".
Cristovam Buarque (Educação): "A
elite brasileira quer resolver o problema da violência diminuindo a idade
com que as crianças vão para a cadeia em vez de aumentar a idade
com que elas saem da escola".
São inúteis as declarações de Thomaz Bastos e de Cristovam. Até as
carpas do Palácio do Planalto sabem
que o Congresso não vai aprovar a
redução da maioridade. Os dois ministros falaram apenas para discordar dos pais, amigos e parentes do casal de estudantes assassinado.
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