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São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Insensibilidade

BRASÍLIA - Em junho de 1988, o democrata Michael Dukakis tinha 17 pontos de vantagem sobre George Bush na disputa presidencial nos EUA. Em novembro, Dukakis perdeu a eleição -entre outras razões, por sua insensibilidade política.
Em um debate na TV, perguntaram ao democrata o que ele faria se sua mulher fosse estuprada. Dukakis respondeu como se não fosse com ele. Disse ser necessário tomar atitudes ponderadas, sem influência emocional. Nota mil como administrador, nota zero como político. Foi reprovado nas urnas. Sumiu do mapa.
No Brasil, ocorre algo semelhante. Alguns ministros do presidente Lula produziram declarações como se estivessem na Suécia ao comentar o crime de assassinato cometido por um adolescente contra um casal de estudantes em São Paulo.
O debate do momento é reduzir ou não a maioridade penal de 18 para 16 anos. É evidente que essa medida não deve ser a melhor nem a única solução para reduzir a criminalidade no país. Ocorre que há um certo clima de estarrecimento na sociedade. Convém a um governo -que é composto por políticos, e não apenas por técnicos- respeitar a dor alheia.
Eis o que disseram dois ministros inspirados em Michael Dukakis:
Márcio Thomaz Bastos (Justiça): "Não se pode submeter pessoas que estão em processo de formação ao convívio terrível de um sistema penal defeituoso".
Cristovam Buarque (Educação): "A elite brasileira quer resolver o problema da violência diminuindo a idade com que as crianças vão para a cadeia em vez de aumentar a idade com que elas saem da escola".
São inúteis as declarações de Thomaz Bastos e de Cristovam. Até as carpas do Palácio do Planalto sabem que o Congresso não vai aprovar a redução da maioridade. Os dois ministros falaram apenas para discordar dos pais, amigos e parentes do casal de estudantes assassinado.


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