São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2003 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES O Brasil repensado a partir das cidades
NABIL BONDUKI
Desde a extinção do Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano (CNDU), imposto pelo regime militar, de forma burocrática, nunca mais o Brasil teve um órgão colegiado para buscar soluções para a problemática urbana. Não é fácil contemplar, de forma democrática, a enorme diversidade existente num país formado por mais de 5.000 municípios, situados em regiões tão diferentes. A proposta da coordenação executiva previa que o conselho seria formado por representantes das entidades nacionais. No entanto verificou-se que muitos delegados, movimentos e entidades que chegaram à etapa nacional eleitos por suas regiões, principalmente no Norte e no Nordeste, não se sentem representados por entidades nacionais. Acredito que esse problema tenha decorrido de um certo desconhecimento da complexidade do país por parte das entidades nacionais, da coordenação executiva e do próprio ministério. Revelou-se a existência de um problema federativo, que precisa ser enfrentado e que se reflete nas políticas públicas, pois são as entidades nacionais que tradicionalmente interferem no processo de elaboração das políticas e programas urbanos. É preciso que todos estejam efetivamente representados. Ao longo da conferência, esse problema foi enfrentado de modo democrático, mostrando a capacidade que o diálogo e o debate têm para resolver conflitos. Ao final foi proposta a eleição, pelos delegados de cada Estado, de um conselheiro observador, com direito a voz, para representar o Estado no conselho. Outro aspecto que deve ser ressaltado foi a expressiva participação dos vereadores, que mostraram a importância do Legislativo municipal na implementação de uma nova política urbana no país. Sem as Câmaras Municipais não se pode implementar o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor nem rever a legislação urbanística. Conseguimos fortalecer a Frente Nacional de Vereadores pela Reforma Urbana, que se tornou uma referência para uma grande quantidade de parlamentares que querem romper seu isolamento e participar da formulação das políticas da área. Instalado, o Conselho Nacional das Cidades terá tarefas de grande importância, como debater e aprovar, a partir das linhas estabelecidas na conferência, a nova política nacional de habitação e a regulamentação da prestação de serviços de saneamento. Também criará mecanismos para garantir a implementação do Estatuto da Cidade no Brasil inteiro. Entre as várias questões a serem definidas por ele, estará em pauta a criação do Sistema Nacional de Habitação e do Fundo Nacional de Habitação. Como membro eleito do conselho, espero contribuir para que a nova política nacional de desenvolvimento urbano crie as condições econômicas, institucionais e políticas para que os municípios possam enfrentar o desafio de garantir a todo cidadão o direito à cidade. Nabil Georges Bonduki, 48, arquiteto e urbanista, é vereador pelo PT em São Paulo e coordenador de relações institucionais da Frente Nacional de Vereadores pela Reforma Urbana. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|