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VINICIUS TORRES FREIRE
Quércia, Tolstói e cacarecos
SÃO PAULO - Tão longe da votação de outubro, Orestes Quércia pode ser
um aviso, mais que uma candidatura. O povo de São Paulo, pelo Datafolha, manda avisar que quer ver coisas novas no páreo eleitoral, mesmo
que seja papelão reciclado, como ex-governador de Pedregulho.
A pesquisa apresentava como opções os novos tucanos, mas de tão
anônimos e ainda por cima tucanos
foram ignorados pelo eleitor, que, de
resto, queimou o filme de FHC, Mercadante e Marta Suplicy. Considere-se que o eleitorado paulista não é tão
diferente do restante do Brasil, afora
homens pobres, de pouca instrução e
nordestino, o voto típico de Lula.
O eleitor tem mandado recados
muito claros nas campanhas e nas
eleições. Iludido pela bolha de benesses do Plano Cruzado, deu vitória
massacrante ao PMDB em 1986. Revoltado com os fracassos e os tumultos da Nova República e de todos os
políticos da redemocratização, aceitou o cesarismo alucinado de Fernando Collor. Agradeceu penhorada
e longamente FHC pelo fim da superinflação. Quando viu as ruínas e o
crescimento "stop and go" de FHC,
quis coisa nova. Deu o sinal com o
apoio à herdeira presuntiva do coronelato do Maranhão, Roseana Sarney, abatida no ar devido a uma pacoteira de dinheiro suspeito. Mas não
queria tucanos, votou em Lula.
Considere-se ainda a maré política
do continente. Diferentes das famílias de Tolstói, os países latino-americanos não são infelizes cada um a sua
maneira, são muito parecidos nas
desditas. Desde a virada do século,
mini-revoltas políticas têm ocorrido
na região, cansada de baixo crescimento e dos efeitos de patifarias ditas
liberais. Derrubaram o regime de
Menem-Cavallo-De la Rúa, derrubaram a elite da Venezuela, do Equador etc. Votaram em Lula, mas o tucanismo de fundo e os liberalóides de
fancaria continuam a mandar, com
os efeitos visíveis.
O povo não tem idéia do teor dessas
políticas, mas delas têm uma experiência epidérmica: sentem-nas no
couro. Junte-se o fastio com a bandalha política e o páreo parece se abrir
para novidades e cacarecos.
@ - vinit@uol.com.br
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