![]() São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004 |
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TENDÊNCIAS E DEBATES Pelo respeito ao desejo dos índios
SALOMÃO CRUZ E HAROLDO AMORAS
Os "fazendeiros" da região Raposa/ Serra do Sol, diferentemente dos bichos-papões veiculados na mídia nacional e internacional, na verdade são retirantes de origem nordestina, muitos aqui chegados no "boom" da exploração do látex amazônico, ou mestiços ali nascidos e seus descendentes. Ontem guardiões da fronteira, agora são atirados na fogueira destinada aos impiedosos capitalistas e aos cruéis grileiros, comuns no modelo de desenvolvimento idealizado para a Amazônia, embora nunca tenham sido financiados pela Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). Na realidade, em bases capitalistas há os produtores de arroz, que desde 1985 produzem em 15 mil hectares de várzeas, com uma das maiores produtividades brasileiras, e são responsáveis pela única atividade agroindustrial efetivamente competitiva de Roraima. O governo federal chamou a si -está na Constituição- a responsabilidade para gerir as questões indígenas e minerais. Portanto o direito do índio à terra é inquestionável. Os critérios e parâmetros para definir o tamanho dessas reservas certamente são discutíveis. E por que não discuti-los? A sociedade de Roraima apóia a demarcação da reserva indígena e isso é essencial. A polêmica nasce dos critérios utilizados, que são os mesmos na demarcação da área ianomâmi -índios que vivem ainda no período paleolítico e isolados- e na de áreas como a Raposa/Serra do Sol, cujas comunidades interagem de forma permanente e contínua com o restante da sociedade há mais de dois séculos. Existe sim, e ninguém desconhece, forte interação social na região Raposa/ Serra do Sol. Por isso a maioria dos índios ali residentes teme o isolamento e não quer a "involução" -para usar uma expressão das próprias lideranças indígenas contrárias à demarcação na forma proposta. Para essas, mente o presidente da Funai quando diz na imprensa nacional que elas não representam mais do que 20% da população indígena. A seu favor, pedem a realização de um plebiscito organizado pelo governo federal para pôr fim à polêmica. Por que não fazê-lo? A reivindicação feita pela sociedade de Roraima é que seja cumprido o despacho número 80 do então ministro da Justiça, Nelson Jobim, de 20 de dezembro de 1996, que diz que "o relatório antropológico não está devidamente circunstanciado, inobservando as regras da portaria MJ n.º 14/96" e que "foram acostados ao processo documentos imprestáveis e não condizentes com a verdade dos fatos". Por essas e outras razões de ordem legal, o então ministro mandou excluir as áreas urbanas do município de Uiramutã, das vilas do Surumú, Água Fria, Socó e Mutum, bem como os títulos definitivos concedidos pelo governo federal, além das áreas de produção de arroz irrigado e vias públicas -rodovias federais, estaduais e municipais. Isso significa menos de 15% da área pretendida para a homologação da terra indígena Raposa/Serra do Sol. Se assim proceder, o governo certamente tomará uma decisão que solucionará o conflito interétnico ora latente. Salomão Cruz, 53, geólogo, é vice-governador de Roraima (PSB). Haroldo Amoras, 51, é mestre em economia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e professor do departamento de economia da UFRR (Universidade Federal de Roraima) Texto Anterior: TENDÊNCIAS E DEBATES Mateus Soares de Azevedo: Judaísmo, anti-semitismo, sionismo Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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