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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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OPÇÃO RECESSIVA

Não chegou a ser uma surpresa a decisão do Banco Central (BC) de aumentar, mais uma vez, a taxa de juros básica da economia brasileira. Afinal, foi a quinta elevação consecutiva nos últimos cinco meses. De tão repetidas, essas decisões vão assumindo ares de medidas apenas "administrativas": mera rotina.
Nada mais falso, no entanto. O manejo da taxa de juros pela autoridade monetária, mesmo quando se orienta por louváveis princípios de coerência técnica, guarda, inevitavelmente, um conteúdo político. Conforme o contexto, o raio de manobra de que dispõem as autoridades é maior ou menor -mas a decisão relativa aos juros nunca deixa de constituir, em medida relevante, uma opção.
É sabido que a política econômica ainda se encontra acuada pela escassez de dólares, reflexo da prolongada retração da oferta de empréstimos externos. Constrange as autoridades, em particular, o recrudescimento da inflação provocado pela alta do dólar, combinado ao compromisso de em 2003 limitar a 8,5% a alta do IPCA (o índice de preços que serve de parâmetro para a política de metas de inflação).
Como o IPCA já subiu 2,25% em janeiro, a política do Banco Central só admite mais 6,1% de alta nos próximos 11 meses. Isso corresponde a uma taxa mensal média de 0,54%, drasticamente inferior á média de 2,17% observada desde outubro.
É uma meta muito ambiciosa, sobretudo num contexto internacional ainda adverso. Em nome dessa meta as autoridades estão claramente optando por sacrificar ainda mais o já pífio crescimento da economia.
Reforça essa impressão o fato de o BC ter complementado o novo aumento dos juros com uma elevação do depósito compulsório sobre os depósitos à vista. A medida reduz os recursos de que os bancos dispõem para emprestar. O custo do crédito, já altíssimo, subirá.
É um novo golpe, duro, desferido sobre uma atividade econômica já combalida. A política econômica parece ter como meta deflagrar, definitivamente, uma recessão.


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