|
Próximo Texto | Índice
OPÇÃO RECESSIVA
Não chegou a ser uma surpresa a decisão do Banco Central
(BC) de aumentar, mais uma vez, a
taxa de juros básica da economia brasileira. Afinal, foi a quinta elevação
consecutiva nos últimos cinco meses. De tão repetidas, essas decisões
vão assumindo ares de medidas apenas "administrativas": mera rotina.
Nada mais falso, no entanto. O manejo da taxa de juros pela autoridade
monetária, mesmo quando se orienta por louváveis princípios de coerência técnica, guarda, inevitavelmente,
um conteúdo político. Conforme o
contexto, o raio de manobra de que
dispõem as autoridades é maior ou
menor -mas a decisão relativa aos
juros nunca deixa de constituir, em
medida relevante, uma opção.
É sabido que a política econômica
ainda se encontra acuada pela escassez de dólares, reflexo da prolongada
retração da oferta de empréstimos
externos. Constrange as autoridades, em particular, o recrudescimento da inflação provocado pela alta do
dólar, combinado ao compromisso
de em 2003 limitar a 8,5% a alta do
IPCA (o índice de preços que serve de
parâmetro para a política de metas
de inflação).
Como o IPCA já subiu 2,25% em janeiro, a política do Banco Central só
admite mais 6,1% de alta nos próximos 11 meses. Isso corresponde a
uma taxa mensal média de 0,54%,
drasticamente inferior á média de
2,17% observada desde outubro.
É uma meta muito ambiciosa, sobretudo num contexto internacional
ainda adverso. Em nome dessa meta
as autoridades estão claramente optando por sacrificar ainda mais o já
pífio crescimento da economia.
Reforça essa impressão o fato de o
BC ter complementado o novo aumento dos juros com uma elevação
do depósito compulsório sobre os
depósitos à vista. A medida reduz os
recursos de que os bancos dispõem
para emprestar. O custo do crédito,
já altíssimo, subirá.
É um novo golpe, duro, desferido
sobre uma atividade econômica já
combalida. A política econômica parece ter como meta deflagrar, definitivamente, uma recessão.
Próximo Texto: Editoriais: DANO COLATERAL Índice
|