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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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DANO COLATERAL

Um dos subprodutos da crise iraquiana foi a implosão daquilo que era conhecido como política externa e de segurança comum da União Européia. De um lado estão França e Alemanha com sua posição dura contra a guerra. De outro estão Reino Unido, Espanha e Itália, que tendem a apoiar o provável ataque norte-americano a Bagdá. Na segunda-feira, uma reunião de cúpula de emergência da UE bem que tentou aprovar uma posição comum do bloco, mas o resultado mal esconde a profundidade das diferenças.
O teor da resolução acertada não passa de uma trivialidade das relações internacionais: o uso da força não está descartado, mas é o último recurso. O ponto de divergência entre os governantes europeus jamais foi quanto à possibilidade de usar a força, mas, sim, em relação à oportunidade de fazê-lo. Para os Estados belicosos, o Iraque já esgotou todas as chances que lhe foram dadas; para o grupo pacifista, ainda existe espaço para as inspeções e a diplomacia.
É evidente que, por trás da posição de cada líder europeu, existe uma miríade de razões, que não cabe aqui comentar detalhadamente. Basta dizer que elas incluem desde interesses mais imediatos, como ficar do lado da opinião pública e sair-se bem nas eleições, até cálculos geopolíticos mais sofisticados, como a idéia de viabilizar um pólo de poder político alternativo aos EUA.
Para agravar um pouco mais o quadro, a partir do próximo ano a UE deverá receber um novo contingente de membros, a maioria do Leste Europeu. De um modo geral, eles tendem a aliar-se aos EUA. Depois de anos de domínio soviético, parecem ainda temer a Rússia e querem fazer jus à proteção militar norte-americana.
Embora trate de questões menos prementes para as populações de seus países, o campo das relações externas acaba sendo um dos que os conflitos intra-UE mais se exacerbam. É que aí, diferentemente do que se passa com a economia, os interesses comuns são mais tênues.


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