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DANO COLATERAL
Um dos subprodutos da crise
iraquiana foi a implosão daquilo que era conhecido como política externa e de segurança comum da
União Européia. De um lado estão
França e Alemanha com sua posição
dura contra a guerra. De outro estão
Reino Unido, Espanha e Itália, que
tendem a apoiar o provável ataque
norte-americano a Bagdá. Na segunda-feira, uma reunião de cúpula de
emergência da UE bem que tentou
aprovar uma posição comum do bloco, mas o resultado mal esconde a
profundidade das diferenças.
O teor da resolução acertada não
passa de uma trivialidade das relações internacionais: o uso da força
não está descartado, mas é o último
recurso. O ponto de divergência entre os governantes europeus jamais
foi quanto à possibilidade de usar a
força, mas, sim, em relação à oportunidade de fazê-lo. Para os Estados
belicosos, o Iraque já esgotou todas
as chances que lhe foram dadas; para
o grupo pacifista, ainda existe espaço
para as inspeções e a diplomacia.
É evidente que, por trás da posição
de cada líder europeu, existe uma miríade de razões, que não cabe aqui
comentar detalhadamente. Basta dizer que elas incluem desde interesses
mais imediatos, como ficar do lado
da opinião pública e sair-se bem nas
eleições, até cálculos geopolíticos
mais sofisticados, como a idéia de
viabilizar um pólo de poder político
alternativo aos EUA.
Para agravar um pouco mais o quadro, a partir do próximo ano a UE deverá receber um novo contingente de
membros, a maioria do Leste Europeu. De um modo geral, eles tendem
a aliar-se aos EUA. Depois de anos de
domínio soviético, parecem ainda temer a Rússia e querem fazer jus à
proteção militar norte-americana.
Embora trate de questões menos
prementes para as populações de
seus países, o campo das relações externas acaba sendo um dos que os
conflitos intra-UE mais se exacerbam. É que aí, diferentemente do que
se passa com a economia, os interesses comuns são mais tênues.
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