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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Os empresários e o combate à fome

ODED GRAJEW

O Brasil está mudando, e seus empresários, também. Evidência disso é a crescente adoção do conceito de responsabilidade social empresarial como ferramenta fundamental para a gestão de negócios sustentáveis e competitivos. Nesse cenário, o antigo ditado de que "o barato sai caro" ganha novos significados. Tornam-se comuns, por exemplo, os casos de empresas que buscaram o caminho do lucro fácil e hoje estão submetidas a processos que poderão resultar em indenizações milionárias por danos ambientais.
Assim, é cada vez maior o número de empresas que incorporam a responsabilidade social e os valores éticos como orientadores do conjunto de suas atividades, procurando minimizar os impactos negativos e multiplicar os efeitos positivos que seus negócios podem proporcionar. A empresa socialmente responsável deve buscar o aprimoramento permanente de suas relações com funcionários, clientes, fornecedores, consumidores e comunidades onde atuam, contribuir para a solução dos principais problemas da sociedade, comprometer-se com o combate à pobreza e à fome, fortalecendo a sustentabilidade econômica e social do país e adotar iniciativas voltadas para a inclusão social. Seus dirigentes querem e sabem que podem colaborar para uma sociedade melhor. Mais que isso, têm consciência de que alcançar esse objetivo também trará muitos benefícios para suas próprias organizações.
Nosso país vive um momento extremamente propício a essa nova postura. A eleição do presidente Lula e a conclamação feita por ele para que toda a sociedade brasileira se engaje na transformação de nossa injusta realidade social vieram potencializar as possibilidades de participação empresarial. O Brasil não é um país pobre. Temos muitos recursos e riquezas. Mas eles estão perversamente concentrados. As empresas, como poderosos agentes econômicos, podem atuar para alterar esse quadro.


Cresce o número de empresas que incorporam responsabilidade social e ética para orientar o conjunto de suas ações


O Programa Fome Zero, prioridade do novo governo, é parte essencial de seu chamamento à ação coletiva no combate à desigualdade social. Esse programa trata a fome a partir do conceito de segurança alimentar: acesso a uma alimentação suficiente, segura e nutritiva. Buscando contribuir nessa perspectiva, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social está lançando o manual "Como as Empresas Podem Apoiar e Participar do Combate à Fome", que contém, além de um breve diagnóstico da fome e da pobreza no Brasil, um panorama das políticas que compõem o Fome Zero. A publicação apresenta suas propostas estruturais, políticas específicas e ações de caráter local. Nesses níveis, há várias iniciativas que poderão ser assumidas pelas empresas, em parceria com o governo e com outros segmentos da sociedade.
Entre as proposições sugeridas, existem algumas cujo sucesso depende em grande medida do apoio empresarial. É o caso do projeto Investir na Juventude, que prevê a contratação de jovens para trabalhar na comunidade (inclusive nas ações do Programa Fome Zero) e, como contrapartida, o compromisso desses jovens com a sua permanência na escola regular ou em cursos profissionalizantes.
Muitas outras propostas do Fome Zero para as empresas estão indicadas no manual: ajudar no financiamento de agências de microcrédito solidário, adotar iniciativas de suplementação de renda para as comunidades e investir na melhoria da renda de seus funcionários, contribuir para o fundo que vai bancar o cartão-alimentação, incentivar funcionários a participar do programa como voluntários, conceder bolsas de estudo para filhos de funcionários ou membros da comunidade, incrementar o fornecimento de merenda nas escolas públicas, combater a desnutrição materno-infantil, ampliar o Programa de Alimentação ao Trabalhador, subsidiar a criação e manutenção de bancos de alimentos, doar gêneros alimentícios ou assegurar apoio logístico à sua distribuição, colaborar com as instituições que atendem à população-alvo do programa e ajudar na implantação de restaurantes populares.
Há muito a ser feito. Mas o apoio expressivo já manifestado por inúmeras empresas indica como elas estão chamando também para si a prioridade do Fome Zero. No Brasil do governo Lula, onde mudança é a palavra-chave, os empresários, coerentes com sua responsabilidade social, poderão assumir na plenitude seu papel de empreendedores e cidadãos.

Oded Grajew, 58, é assessor especial do Presidente da República, idealizador do Fórum Social Mundial e presidente licenciado do Instituto Ethos.


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