São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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JOGO PERIGOSO

Embora correndo o risco de voltar-se preponderantemente para o caso Waldomiro Diniz, que não era seu propósito inicial, a CPI dos bingos é relevante, tendo muito a investigar. O funcionamento de bingos no país foi originalmente autorizado para ajudar financeiramente clubes esportivos. O espírito da lei, contudo, como sói acontecer, jamais se materializou. Muito pelo contrário, todos os indícios sugerem que, se há um setor beneficiado pela atividade, ele é o crime organizado.
Jogos de azar são, de um modo geral, uma excelente maneira de lavar dinheiro. Daí que com freqüência se vê a associação entre os que administram a jogatina e traficantes de drogas e outros criminosos interessados em simular origem legítima aos recursos auferidos à margem da lei. E, rompida a barreira da legalidade, vem a delinqüência.
As suspeitas contra bingos incluem o uso de máquinas viciadas, homicídios, corrupção, tráfico de influência e sabe-se lá quantos delitos mais. Uma investigação mais profunda nesse terreno poderá revelar o quão movediças ainda são nossas instituições. Conexões suspeitas entre o jogo e os meandros da política dificilmente se limitarão ao caso Waldomiro e ao PT. É difícil não crer que outras figuras públicas das mais diferentes esferas e Poderes mantenham relações inadequadas com a máfia do jogo.
Para além da questão meramente policial, há um problema de saúde pública. Bingos tendem a ampliar o contingente dos viciados em jogo. A literatura médica traz farta documentação a comprovar que a compulsão de jogar é uma doença mental comparável ao alcoolismo ou à dependência de outras drogas.
A legalização do jogo é polêmica e encontra defensores de peso na sociedade. Os riscos, contudo, de irregularidades financeiras e os problemas para a saúde pública indicam que essa atividade deve ser proscrita.


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