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CLÓVIS ROSSI
O "pop star" se aposenta
SÃO PAULO - Por Fidel Castro ser
o mais longevo dos governantes do
planeta, tudo o que se poderia dizer
sobre ele já foi dito, de bom ou de
ruim. De ditador a "benefactor", de
herói a bandido, com todos os matizes intermediários, todos os rótulos
já lhe foram aplicados.
Resta-me uma perplexidade: como o líder de uma pequena ilha,
praticante de um modelo que caiu
em desuso, conseguiu manter-se,
ainda assim, como um "pop star"?
Conto o episódio que me aguçou
essa perplexidade. Em 1997, comemorava-se, em Genebra (Suíça), o
50º aniversário do Gatt (o Acordo
Geral sobre Tarifas e Comércio,
substituído pela Organização Mundial do Comércio).
A Genebra acudiram os suspeitos
de sempre: chefes de Estado e chefes de governo, autoridades dos
mais diversos calibres, diplomatas
em cachos e os indefectíveis seguranças, "aspones" e jornalistas que
acompanhamos esse tipo de circo
(sem nenhum desrespeito ao circo
de verdade ou ao circo do "grand
monde" planetário).
Os suspeitos de sempre proferiram os discursos de sempre, enquanto a maior parte da "asponeria", dos jornalistas e dos funcionários não tão graduados ficávamos
na cafeteria no subsolo do Palácio
das Nações.
Ninguém prestava atenção à discurseira, até que o mestre de cerimônias anuncia Fidel Alejandro
Castro Ruz. O bruaaá das conversas
é suplantado pelo arrastar de cadeiras na direção dos telões que transmitiam a cerimônia.
Feito o silêncio, na cafeteria e um
andar acima, Fidel Castro abre o
discurso com "la vida es sueño, y los
sueños, sueños son", um Calderón
de la Barca que parecia profano naquele ambiente.
Ao terminar, uma chuva de
aplausos, inclusive de seus pares,
101% dos quais não tinham nem
nunca tiveram nenhum parentesco
e/ou simpatia com o comunismo.
Difícil entender o que aconteceu ali.
crossi@uol.com.br
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