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FERNANDO DE BARROS E SILVA
"A mulher do Lula"
BRASÍLIA - Debates intermináveis, ânimos alterados, faíscas no ar.
Esqueça tudo isso. A febre do assembleísmo desta vez não se apossou do PT. Ontem, durante as discussões em torno da política de
alianças e das diretrizes para o programa de governo de Dilma Rousseff, o clima do 4º Congresso Nacional do partido não poderia ser mais
frio, cordato e comportado.
No auditório, os delegados mais
pareciam um rebanho de ovelhas.
Falas breves e quase sempre mornas eram seguidas de votações previsíveis a favor da direção partidária. Mesmo as concessões pontuais
à esquerda -destacadas com tanto
estardalhaço- parecem ser apenas
migalhas de pão amanhecido do socialismo para satisfazer uma militância já satisfeita pelo lulismo.
O congresso do PT cumpre um
roteiro de cartas marcadas. As ovelhas negras e desgarradas perderam
o antigo apelo e hoje são espécimes
exóticas a enfeitar a paisagem. Nesse ambiente pacificado de cima para baixo, não há, como diz um dirigente petista, nenhuma disposição
para tornar visíveis atritos ou divergências que possam atrapalhar a
candidatura de Dilma.
A ex-prefeita Marta Suplicy fala
em "amadurecimento político" para descrever o que o secretário-geral, José Eduardo Cardozo, chama
de "o mais calmo dos congressos do
PT". O fato, muito evidente em Brasília, é que o partido ritualiza sua
rendição ao êxito do lulismo.
Candidata indicada pelo presidente, Dilma será hoje referendada
com festa pelo PT. Mais definida
ideologicamente do que Lula, a ministra será naturalmente acolhida
pela base social histórica do petismo. Seu desafio não é esse, mas antes o contrário: sendo cria de Lula, ela terá de transpor os limites do
partido para alcançar a massa que
compõe a base social do lulismo.
Essa é a "grande interrogação" da
campanha, que a euforia de hoje
não irá dissipar. Como diz Maria da
Conceição Tavares, convidada de
honra do congresso petista, para o
povão, Dilma é "a mulher do Lula".
Só veremos lá adiante, nas urnas, o
que pensam disso os filhos do casal.
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