São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

Próximo Texto | Índice

A INCÓGNITA PRODUTIVA

Para que o Plano Real seja consistente a longo prazo é preciso que esteja em curso uma reestruturação produtiva capaz de melhorar significativamente a competitividade da indústria nacional. O acompanhamento dessas transformações é quase tão importante quanto o dos desdobramentos macroeconômicos.
O governo sustenta que esse processo de modernização produtiva está ocorrendo, e que seu sucesso é pelo menos factível. Mas economistas qualificados põem em dúvida se essas transformações têm magnitude para contrabalançar as desvantagens competitivas produzidas pela valorização cambial. O problema é que não existem dados suficientes para comprovar uma tese ou outra.
A estimativa de que a taxa de investimento aumentou de 16% para 18% do PIB em 1997 é um sinal favorável à tese de que a reestruturação está em andamento. Ainda não basta para imprimir um ritmo de crescimento compatível com as potencialidades do país e a redução do desemprego, mas essa é outra questão.
Antonio Barros de Castro traz, porém, novo complicador ao debate. Em artigo nesta Folha, o ex-presidente do BNDES afirma que a nova safra de investimentos, voltada principalmente para o setor de consumo, seria pouco geradora de divisas e não traria grandes ganhos de produtividade para toda a economia.
Outro elemento de avaliação são os sinais sobre o que está ocorrendo nas áreas de infra-estrutura. O governo anunciou em fins do ano passado cortes de R$ 2,1 bilhões nos investimentos das estatais de energia elétrica, petróleo e telecomunicações. Mas parece claro que as empresas já privatizadas farão grandes investimentos. O saldo ainda promete ser positivo. Mas é difícil prever a magnitude dos ganhos de competitividade que tal modernização trará para o restante do parque produtivo.
A reestruturação com a qual o governo espera fazer a travessia até um novo equilíbrio macroeconômico ainda é uma incógnita.



Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.