São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Preparar a Páscoa

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Faltam poucos dias para a Semana Santa. Procuremos intensificar a preparação para o tríduo em que comemoramos a paixão, a morte e a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Entregou-se para nos salvar do pecado e venceu a morte para nos dar a vida. Participar da liturgia da Semana Santa é um dever de gratidão para todos que têm a graça de conhecer pela fé a mais bela história de amor por nós.
Na tradição cristã, o período de preparação é marcado por três expressões de fé, que manifestam a nossa conversão e o desejo sincero de abraçar a vida nova que Cristo Ressuscitado nos oferece e comunica. Trata-se da oração, do jejum e da esmola.
A oração nos une mais intensamente a Deus, faz-nos crescer na confiança e obtém-nos as graças de que necessitamos para conhecer e cumprir sua vontade sobre nossas vidas. Neste ano de 1999, último que precede o grande jubileu e a entrada no milênio novo, somos convocados para descobrir sempre mais a Deus, pai da misericórdia, que nos deu seu filho Jesus, ama-nos com infinito amor, move-nos ao arrependimento, perdoa nossas faltas e ajuda-nos a abrir o coração e a reconciliar-nos com nossos irmãos.
Acreditemos na graça de Deus e procuremos dar e receber o perdão, diante de quem nos ofendeu e fez sofrer. Não tenhamos receio de sermos nós a estender a mão em primeiro lugar. É o momento de esquecer o ressentimento e restabelecer os laços de amizade e amor entre marido e mulher, pais e filhos e em todos os setores da sociedade.
O jejum pode parecer uma palavra sem muita circulação entre nós. No entanto, conserva toda a sua força. Além de ser uma atitude penitencial, pela qual reparamos nossas faltas, o jejum ajuda-nos a conseguir o controle e o autodomínio diante da atração do fumo, da demasiada comida e bebida e da desordem de nossos instintos. Percebemos melhor a atualidade do jejum e do autocontrole quando consideramos o desregramento a que tantos jovens são levados pela propaganda e aliciamento das drogas ou da perversão sexual.
A Sagrada Escritura valoriza muito a esmola. E por quê? Ela significa a partilha como vivência da fraternidade. Não se trata apenas de dar alguma coisa a quem mendiga e passa carência extrema. A esmola é expressão do amor misericordioso e da solidariedade que, ao perceber a indigência do próximo, sabe socorrê-lo com todo respeito à sua dignidade de filho de Deus e irmão nosso.
A esmola, como ensina Jesus, deve ser feita diretamente sob o olhar do "Pai do Céu", com coração generoso e alegre para atender à necessidade do irmão. Na análise que o papa João Paulo 2º fez da atitude dos católicos no atual milênio, ele coloca em evidência a nossa insensibilidade diante das injustiças sociais e da grave miséria do povo. A solidariedade que nasce do amor deve ser criativa e descobrir soluções viáveis, por exemplo, diante do desemprego que se torna cada vez mais cruel e desafiante.
Preparar a Páscoa é dispor-se interiormente a vencer o egoísmo e o pecado para configurar sempre mais a própria vida a Jesus Cristo, assumindo com todas as consequências o mandamento e o primado do amor. Assim, a Páscoa de Cristo, além de renovar a esperança da nossa ressurreição, é também convite à experiência crescente do relacionamento fraterno e feliz.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Corvo di Salaparuta
Próximo Texto: Frases

Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.