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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Cavando a própria cova

SÃO PAULO - Ao desembarcar na terça-feira no aeroporto de Cumbica, tive uma agradável surpresa: a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) distribuiu folhetos, à porta do avião, para rastrear os passageiros como prevenção à tal Sars (a "pneumonia asiática").
É raro ver demonstrações de rapidez e eficiência de parte de autoridades brasileiras, em qualquer área. Pena que durou muito pouco. Preenchido o formulário e tendo-o à mão, passei pelo controle de passaportes. Ninguém o solicitou.
Passei também pela alfândega. Havia até um funcionário da Receita, sentado e com essas máscaras de médico no rosto, recolhendo a declaração de bens. Entreguei os dois formulários (o da Receita e o da Anvisa), mas ele recusou o da Saúde. Perguntei a quem deveria entregá-lo. "Não tenho a menor idéia", respondeu, com a má vontade habitual em boa parte do funcionalismo.
Fui saindo do aeroporto com a consciência meio culpada, achando que havia passado batido por algum recanto no qual o formulário da Anvisa deveria ser entregue.
Se foi assim, não estava sozinho. A tripulação do vôo da United que me trouxera de Washington também passava a meu lado, com os formulários nas mãos.
O episódio é ilustrativo. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se queixado a seus íntimos de que a máquina pública não funciona como ele gostaria. É lenta, desinteressada, emperrada.
No caso da "pneumonia asiática", a culpa nem é da cúpula, mas da preguiça da base. Não há muitos aeroportos internacionais no Brasil, os que existem não são exatamente locais insalubres ou arriscados para trabalhar. Custava ter alguém sentado na saída (única) dos passageiros, fazendo o esforço de esticar o braço para apanhar um papelzinho?
Depois, o funcionalismo se queixa de perseguição. Muitos ajudaram a cavar a sepultura em que o prestígio dele foi sendo enterrado.


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