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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O Congresso e os transgênicos

A guerra econômica e ideológica em torno da soja transgênica trará grandes prejuízos para o Brasil, no curto e no longo prazos.
No curto prazo, a comercialização dos grãos já colhidos está causando um alvoroço no meio rural. A identificação, rotulagem e certificação estão gerando novos custos e retardando a comercialização do produto. Prejuízos enormes.
No longo prazo, a incerteza do novo plantio deixa o Brasil enfraquecido perante os seus concorrentes, em especial os que aprovam os cultivares transgênicos -como é o caso dos Estados Unidos e da Argentina. Para eles, a incerteza é motivo de alegria e comemoração.
A confusão é enorme. Os que plantaram não podiam plantar, pois a lei proibia. Mas eles não esperavam que seriam barrados na comercialização. Os que colheram, só podem vender informando os compradores a respeito da transgenia. E também não esperavam que teriam de enfrentar tamanhas dificuldades.
Já estamos chegando perto do novo plantio. A indefinição cria intranquilidade e, com isso, o Brasil corre o risco de perder uma parte do grande sucesso que a agricultura vem apresentando nos últimos anos.
Há 25 anos, o Brasil produzia cerca de 1.200 kg de soja por hectare. Hoje, produz mais do que o dobro disso. Em São Paulo, a média ultrapassou os 2.600 kg por hectare; no Paraná, 3.000 kg, e no Mato Grosso, 3.100 kg.
Por trás desse êxito está o esforço dos pesquisadores e a tenacidade dos produtores. Entre 1997 e 2002, mais do que dobramos a produção de soja, ultrapassando a casa das 50 milhões de toneladas.
No geral, o período de 1990 a 2001 foi marcado por um enorme crescimento da produtividade da agricultura. Nesse período, a produtividade do trabalho cresceu 53% e a da terra, 34%. São incrementos fantásticos e que colocam nossos concorrentes de olho naquilo que o Brasil pode representar como ameaça nas próximas décadas.
O fenomenal desempenho da agricultura brasileira é bom e oportuno, pois o mundo precisa desesperadamente de alimentos. Vejam o caso do Iraque, que foi destruído por uma guerra descabida e que pode se alastrar pelo Oriente Médio. Observem também o caso da China, que tem 1,3 bilhão de habitantes e um solo relativamente pobre e que perde água e fertilidade ano a ano. O mesmo acontece com a Índia, que também tem mais de 1 bilhão de habitantes. Nestes dois casos, são bocas famintas que fazem parte de países que crescem, aumentam a renda e elevam o poder aquisitivo -significando oportunidades concretas para a expansão das exportações agrícolas do Brasil.
Esperemos que o Congresso Nacional coloque um ponto final na incerteza reinante. Como problemas, bastam o protecionismo externo e a escorchante taxa de juros interna. A agricultura brasileira tem superado todos esses entraves e não pode ser estancada por interesses de multinacionais e de ideólogos que nunca provaram que o produto faz mal à saúde humana.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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