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MARCIO AITH
Sem saída
Depois de minar a proposta conjunta do Brasil e da Argentina de
criar regras contábeis mais benéficas a
investimentos de estatais, o FMI colocou mais um obstáculo à tentativa do
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vestir adereços desenvolvimentistas na política econômica de
seu antecessor.
Sob o pretexto de debater a sugestão
contábil dos presidentes Lula e Néstor
Kirchner, o Departamento de Assuntos Fiscais do Fundo avançou alguns
sinais e traçou, de forma discreta, um
diagnóstico extremamente negativo
do uso da PPP (Parceria Público-Privada) em países com tradição de desperdiçar dinheiro público, como o
Brasil.
Como se sabe, a PPP é um mecanismo centenário que visa possibilitar a
parceria entre governos e a iniciativa
privada na execução de obras de infra-estrutura, num contexto no qual os investimentos estatais são escassos.
O vértice da PPP prevê a atração do
investimento privado com a promessa de remuneração pública e generosa
após a conclusão de obras como hospitais, escolas, estradas e ferrovias.
Em documento cuja divulgação ainda não é certa, o FMI reconheceu como legítima a preocupação com a realização de investimentos substanciais
para diminuir a brecha que existe entre a demanda de serviços de infra-estrutura e a capacidade para provê-los.
Mas deixou o recado de que a PPP
não foi inventada para driblar restrições orçamentárias ou deixar "pepinos" a administrações futuras, mas,
sim, para viabilizar o planejamento.
Em suma, o FMI vai dizer aquilo que
o Ministério da Fazenda já havia introjetado e tentava transmitir havia
meses ao ministro Guido Mantega
(Planejamento), principal entusiasta
da idéia: não se fabrica dinheiro fazendo PPPs e as obras têm de caber na capacidade da economia de sustentá-las.
Aos golpes do FMI contra o esforço
de Lula de agregar valores sociais à ortodoxia fiscal dos tucanos soma-se
outro, fatal, desferido na semana passada pelo sistema financeiro. Pressionado por bancos, o governo desistiu
de flexibilizar o arrocho fiscal a partir
de 2005, como prometera, porque poderia gerar dúvidas no mercado.
Essa flexibilização atendia pelo nome esdrúxulo de "superávit primário
anticíclico", mecanismo que permitiria que o esforço fiscal fosse maior em
anos de forte crescimento e menor
nos períodos de menor atividade.
O mecanismo anticíclico foi citado
na semana passada por bancos como
um dos motivos para rebaixar a recomendação de investimento em títulos
brasileiros. Segundo essas instituições, um país endividado precisa economizar dinheiro não só em dia de sol
mas também em dia de chuva.
O governo, que vendera a idéia freneticamente durante meses, escalou
Mantega para jogar a toalha publicamente -uma injustiça, já que essa
idéia era mais do ministro Antonio
Palocci (Fazenda) do que dele.
"Não há metodologia precisa que
possa ser adotada sem dar sinais ambíguos à sociedade e ao mercado", justificou Mantega.
Os tropeços acima mostram a minúscula margem de países em desenvolvimento na condução de suas economias. Sugerem ainda que, passados
16 meses de governo, Lula ainda não
achou a fórmula para manobrar essa
margem.
Marcio Aith é editor de Dinheiro. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Roberto
Mangabeira Unger, que escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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