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CARLOS HEITOR CONY
O muro da Rocinha
RIO DE JANEIRO - Estourou como uma bomba a idéia (já rejeitada pelo
seu autor) de construir um muro isolando a Rocinha dos bairros que a
circundam. Vozes indignadas lembraram o Muro de Berlim, também
chamado de Muro da Vergonha, e o
muro que Ariel Sharon está construindo no Oriente Médio, separando fisicamente os palestinos dos cidadãos de Israel.
Acontece que, pelo menos aqui no
Rio, estamos murados há muito tempo. Muros materiais, feitos de grades
em torno dos prédios, feitos de cancelas nos condomínios fechados, que
obrigam os visitantes a se identificar
e, em caso de suspeita, a ter os carros
e embrulhos vistoriados. E, sobretudo, muros psicológicos, que erguemos
individualmente na vida diária, colocando-nos em permanente alerta
contra um assalto ou seqüestro.
Vivemos todos murados, pelo menos aqui no Rio. Outro dia, um amigo precisou de uma certidão num
prédio onde funciona o departamento de um ministério. Só faltou pedirem que ele arriasse as calças para
ver se trazia alguma arma ou droga.
É evidente que a idéia do muro foi
extravagante, se levada por este lado,
o da discriminação urbana. Administrações passadas já pensaram em
murar as praias, impedindo o livre
acesso ao mar, criando borboletas
para cobrar ingresso, como acontece
em alguns países da Europa.
Há, porém, um outro lado da questão. No caso específico da Rocinha,
basta comparar uma foto aérea de
seis anos atrás com uma tirada recentemente. Ela cresceu espantosamente em cima da mata atlântica.
Praticamente ligou São Conrado à
Gávea, dois bairros separados geograficamente pela maior floresta urbana do mundo. E continua avançando, sem nenhum controle, ameaçando, de um lado, o Leblon, de outro, toda a mata que forma a floresta
da Tijuca.
O ideal seria a urbanização da favela, numa cidade que não tem o urbanismo como tradição. Mas alguma
coisa terá de ser feita para preservar o
maior patrimônio ecológico do Rio.
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