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Festa do interior
NOVAMENTE surge o instrumento fisiológico e paroquial das emendas parlamentares individuais na raiz de
desvios de recursos públicos.
No caso mais recente, congressistas têm feito modificações no
Orçamento da União para destinar verbas do Ministério do Turismo à realização de eventos
festivos, como rodeios e bailes de
carnaval, em seus Estados. Muitas das entidades beneficiadas ligam-se a políticos e partidos -e
suspeita-se que grande parte dos
recursos seja desviada.
O orçamento específico para
festas do ministério vem se multiplicando nos últimos anos. Em
todo o seu primeiro mandato, o
governo Lula gastou R$ 116,5 milhões na realização de eventos
deste tipo. Em 2010, o volume de
verbas com tal finalidade alcança
os R$ 765 milhões -suficientes
para financiar mais de 2.500 festas por todo o país.
Algo semelhante ocorria com a
chamada máfia dos sanguessugas, que se tornou conhecida em
2006. Em vez de festas, deputados destinavam verbas para a
compra de ambulâncias superfaturadas. O instrumento para distribuir os recursos, de forma capilarizada, era o mesmo: modificações no Orçamento.
Ainda que utilizadas de forma
legítima, as emendas individuais
servem muitas vezes para manter a clientela de votos dos congressistas em seus Estados. Pulverizam os gastos e dificultam o
seu controle. Daí que se tornem
um meio privilegiado para o desvio de recursos. Seu uso também
interessa ao governo, que mantém o controle sobre a liberação
das verbas e aumenta o poder de
barganha com o Legislativo.
É preciso que tal instrumento
seja mais bem aplicado ou simplesmente eliminado, dando lugar a emendas apresentadas por
bancadas. Não faz sentido o Congresso atuar como uma grande
câmara de vereadores, à mercê
do Executivo e de esquemas paroquiais de desvio de verbas.
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