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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Estofadinhos
SÃO PAULO - Ainda ameaçado
por liminares, está previsto para
hoje o leilão da usina de Belo Monte. Quando iniciada, será a maior
obra em construção no mundo (e a
terceira maior hidrelétrica do planeta). No entanto, as duas maiores
empreiteiras do país, Odebrecht e
Camargo Corrêa, anunciaram há
dez dias a sua saída do negócio.
O governo correu para arrumar
um consórcio que pudesse "disputar" com aquele liderado pela Andrade Gutierrez e a Vale do Rio Doce. Há boas razões para supor que
Odebrecht e Camargo não estavam
dispostas a coadjuvar um teatro.
Em entrevista à Folha, Dilma
Rousseff explicou a atitude das desistentes de maneira um tanto curiosa: "O pessoal está estofadinho
de obras. Antes, tinha só uma obra,
eles sofriam. As empresas hoje têm
um leque grande de oportunidades". A explicação deve ser falsa,
mas a afirmação é verdadeira. A rigor, não só as empreiteiras estão
"estofadinhas". O setor privado como um todo nunca faturou tanto.
Eis, no entanto, o mistério: por
que esses estofadinhos nadando
em dinheiro preferem José Serra?
Ok, é verdade que os empresários
são sobretudo pragmáticos e tendem a apoiar os donos do poder,
quaisquer que sejam. Mas também
é um fato que têm preferências.
O jornal "Valor Econômico" divulgou na semana passada uma enquete com 142 executivos. Resultado: todos afirmaram que suas empresas cresceram de forma significativa sob Lula, mas, apesar disso,
111 disseram preferir Serra, contra
apenas 13 que escolhem Dilma.
Marina teve 8 votos. Ciro, só 1.
Ou seja: Lula conquistou os empresários pelo bolso, mas o coração
deles (que também pulsa no bolso)
não bate por Dilma. De onde vem
tanta resistência? Reação à retórica
de classe (ricos contra pobres) da
campanha? Medo de uma tutela
maior do Estado sobre o setor privado? Desconfiança de que Dilma e
Lula sejam tão diferentes? A verdade é que Serra, apesar da fama de
mau, larga com a preferência da
turma que Lula deixou estofadinha.
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