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CARLOS HEITOR CONY
Maioridade de Brasília
RIO DE JANEIRO - Não chega a
ser muito. Na realidade, é quase nada. Cinquenta anos na vida de uma
pessoa é um marco, serve para avaliações e ainda há tempo para projetos. Na história de uma cidade, como Brasília, é muito pouco para
uma perspectiva definitiva. O fato
de ser irreversível não lhe garante
ainda uma historicidade.
Mesmo assim, contrariando
grande parcela da opinião pública
da época de sua construção, Brasília
veio para ficar. Até aqui, parece que
para o bem, pois ajudou a integração nacional, criou novas fontes de
trabalho e uma imagem positiva
das possibilidades nacionais quando empenhadas em alguma coisa
grandiosa.
Lembro duas objeções que os técnicos daquele tempo fizeram contra a nova cidade. Um engenheiro
respeitável garantiu que o lago jamais se encheria. Mais tarde, JK
convidou-o informalmente para
um passeio de lancha no Paranoá.
Um técnico em comunicações,
famoso pela virulência de seus artigos em jornal, provou por "a" mais
"b" que a situação topográfica de
Brasília impediria a telefonia, o telex, qualquer meio tecnológico de
comunicação. JK mandou-lhe um
telegrama no dia seguinte ao da
inauguração da cidade.
Politicamente, Brasília criou problemas que não podem ser creditados exclusivamente à sua existência. O isolamento inicial facilitou algumas crises institucionais, inclusive o golpe de 64. Mas criou condições favoráveis à máquina administrativa, nem sempre voltada ao bem
do país.
Atualmente, no momento de seu
cinquentenário, Brasília passa por
grave crise política, que, pelo menos até agora, não teve desdobramento nacional. Neste particular,
funciona como uma província, uma
paróquia. Paradoxalmente, talvez
seja o sinal de sua maioridade histórica.
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