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MARCOS NOBRE
Quanto vale uma cadeira
TEM SIDO saudado como mais
um sinal da neorrelevância
do Brasil o fato de a política
externa ter se tornado tema eleitoral. Como em outros assuntos,
também aqui há exagero. Mas é
fato que a situação atual tem algo
de inédito.
O prolongamento da crise mundial tende a alterar os pesos relativos dos países no cenário internacional. Há uma disputa aberta por
mercados e poder. A queda de
braço entre os EUA e a China em
torno da taxa de câmbio chinesa é
apenas a face mais evidente disso
no momento.
A história do Brasil foi até hoje
apenas de subordinação a transformações sobre as quais a periferia
normalmente não tem nenhuma
ingerência. Não que a época de
ajustes e adaptações tenha passado
e que o país esteja agora sentado à
mesa de decisões do capitalismo
mundial. Mas o Brasil tem hoje de
fato alguma margem de influência
e de manobra. E as candidaturas
presidenciais precisam dizer o que
pretendem fazer com ela.
Até o momento, o Brasil fez muito barulho por nada. Oscila entre
um movimento defensivo como o
dos países não alinhados na época
da Guerra Fria e delírios megalomaníacos de ofensividade desproporcionais ao peso real do país.
Abandonou posições históricas razoáveis para cometer equívocos
que vão custar caro.
Em vista da importância do gesto de Obama em relação ao desarmamento nuclear e da tradição pacifista do Brasil, o apoio ao Irã é
mais do que simplesmente ridículo: é perigoso. Em vista da necessária defesa dos direitos humanos, a
atuação em relação a Cuba é deplorável. Para não falar de trapalhadas
como no caso de Honduras ou na
invenção de siglas idiotas (que custam dinheiro) como a Unasul -que
ninguém lembra o que significa.
Se há alguma lógica por trás desse posicionamento errático, ela está em que o país se dispôs a pagar
qualquer preço para conseguir
uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Não há dúvida de
que o Brasil deve se aproveitar das
fissuras entre Europa, EUA e China para fazer valer suas posições.
Mas não a qualquer custo. Não em
nome de uma obsessão tão pouco
realista que só conseguiu até agora
embaralhar a sua imagem externa
e produzir confusão e frustração.
A liderança regional pretendida
pela atual política externa virá com
a construção de uma imagem coesa, capaz de conquistar espaço efetivo de influência e de decisão. Não
com oportunismo de ocasião, corrida armamentista e siglas fantasiosas. A mesma coisa vale para a
tão cobiçada cadeira. Quando a
música parar, o mais provável é
que todos estejam sentados onde já
estavam. E que só o Brasil tenha
dançado.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.
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