A grande vitória da direita nas eleições holandesas reforça a percepção de que a Europa atravessa uma onda conservadora. Partidos de direita e de extrema direita estão obtendo sucessos eleitorais extraordinários no velho continente. A idéia de que existe uma tendência se impõe. Primeiro foi Jörg Haider na Áustria, depois Berlusconi com os neofascistas na Itália. Mais recentemente, veio Le Pen na França, para não mencionar os bons desempenhos de partidos fortemente conservadores na Dinamarca, na Bélgica e na Suíça.
Tudo isso é verdade, mas é preciso muito cuidado para não simplificar a análise e ignorar fatores locais sem os quais a interpretação fica comprometida. Não há dúvida de que a Lista Pim Fortuyn (LPF) representa a extrema direita holandesa. Só que a extrema direita holandesa segue padrões holandeses de tolerância.
Para começar, Pim Fortuyn, o líder populista assassinado no último dia 6, era homossexual assumido. A extrema direita clássica, a de Haider e Le Pen, não tolera homossexualismo. Aliás, Fortuyn dizia que atacava o islã pela sua intolerância em relação ao homossexualismo.
Outra diferença importante está nas políticas antiimigração defendidas pela LPF. Enquanto a extrema direita clássica é favorável à expulsão de todos os ilegais e recorreria até a campos de internamento, a LPF diz que a Holanda "já está cheia" e pede a revisão das leis que dão asilo a estrangeiros. Vários imigrantes fazem parte da LPF. Um cabo-verdino, João Varela, é o vice-líder do partido.
O padrão holandês de tolerância também vale para a direita não-extremista. Jan Peter Balkenende, líder da Democracia Cristã (DC) e provável futuro premiê, defende rígidos valores morais cristãos. Apesar disso, ele já anunciou que não vai tentar reverter a legislação que permite a eutanásia no país ou a política de tolerância em relação às chamadas drogas leves. Convenha-se: são poucos os partidos cristãos que aceitam a eutanásia e a maconha.



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