|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Mais que branco ou preto
BRUXELAS - A ditadura intelectual imposta pelo "pensamento único"
transformou em verdade absoluta a
crença de que tudo que é privado é
bom e tudo que é público é ruim.
Aí, vem o jornal "O Globo" e informa, na capa de ontem, que "uma
pesquisa financiada pela Organização Mundial de Saúde e realizada
pela Fiocruz revelou que os brasileiros que têm plano de saúde privado
estão mais insatisfeitos com o atendimento que recebem do que os que
utilizam o Sistema Único de Saúde
(SUS). Dos clientes de planos de saúde, 72% se disseram insatisfeitos contra 53% de insatisfação entre os pacientes do SUS".
Decorre daí que devemos fechar todos os planos privados de saúde? Se se
seguir o raciocínio mediocremente
binário que é muito comum no Brasil, a resposta será sim. O "binarismo" faz com que quem critica o governo Lula passe a ser imediatamente tratado como "tucano", assim como quem criticava o governo Fernando Henrique era inexoravelmente "petista" -embora o crítico de um
possa ser o mesmo que critica o outro.
Para quem não segue o raciocínio
binário, a pesquisa da Fiocruz só prova o que todo o mundo sente na carne ou, ao menos, intui: ambos os serviços de saúde são ruins. Tanto que
ambos provocam descontentamento
na maioria de seus usuários, ainda
que a porcentagem de insatisfeitos seja maior com o setor privado.
Suspeito que uma das razões pelas
quais o Brasil anda de lado faz mais
de 20 anos seja essa maldita mania
de ver tudo em preto ou branco.
O deputado Delfim Netto (PP-SP),
que, na ditadura, também foi binário, agora escreve que "a ação do Estado é insubstituível no estímulo ao
crescimento econômico" e que "a política que considera estabilidade monetária e inação do Estado condições
necessárias e suficientes para o desenvolvimento é falsa".
Estaria Delfim propondo a estatização da economia? Não, está apenas demonstrando bom senso. Pena
que não o teve quando foi governo,
praga, aliás, que parece ter afetado a
maioria de seus sucessores.
Texto Anterior: Editoriais: A TEIMOSIA DE MARTA Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz: O céu é o limite Índice
|