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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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ESPETÁCULO DA RETÓRICA

Enquanto não se abrem as cortinas do prometido e aguardado "espetáculo do crescimento", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai brindando o país com o espetáculo de sua retórica. Lula tem privilegiado compromissos da agenda presidencial como púlpito para comunicar-se com a sociedade. Nessas ocasiões exercita, de forma aparentemente improvisada, sua verve carismática. Habituado a falar a platéias populares, o presidente é abundante no uso de imagens domésticas e do cotidiano. Ora é o "companheiro que pára para tomar uma cervejinha" e depois é criticado, ora é o dissidente comparado "à família que pensa diferente da gente", ora é alguém que "bate os braços" e pode "morrer afogado desnecessariamente", em referência aos que pedem mais rapidez na queda dos juros.
No início da semana, ao participar de um evento na cidade de Pelotas (RS), Lula, de novo, discursou. Sob vaias de alguns manifestantes contrários à reforma da Previdência, o presidente assumiu tom acalorado e respondeu a críticas endereçadas ao governo por seu antecessor -que chamou, num ato falho, de "sucessor". Disse que sua administração recebeu um Brasil "quebrado" e voltou a pedir paciência: o governo não deveria se comportar como um jogador de futebol que "pega a bola, não olha para o lado, dá uma bicuda e não marca o gol".
Independentemente de julgamentos sobre o estilo dos discursos presidenciais, chama a atenção não apenas a frequência com que acontecem mas o fato de que comecem a contrariar frontalmente a realidade. Foi o caso em Pelotas, quando Lula garantiu que seu governo daria um basta no vaivém de políticos que trocam de partido como "trocam de camisa". Sabe-se que, desde a posse, a base governista aumentou, num processo que registrou inúmeras migrações entre legendas.
Corre-se o risco de que o vazio de resultados mais consistentes vá sendo preenchido por uma oratória cada vez mais propensa a lançar mão de mistificações populistas.


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