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ESPETÁCULO DA RETÓRICA
Enquanto não se abrem as
cortinas do prometido e aguardado "espetáculo do crescimento", o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
vai brindando o país com o espetáculo de sua retórica. Lula tem privilegiado compromissos da agenda presidencial como púlpito para comunicar-se com a sociedade. Nessas ocasiões exercita, de forma aparentemente improvisada, sua verve carismática. Habituado a falar a platéias
populares, o presidente é abundante
no uso de imagens domésticas e do
cotidiano. Ora é o "companheiro
que pára para tomar uma cervejinha"
e depois é criticado, ora é o dissidente comparado "à família que pensa
diferente da gente", ora é alguém que
"bate os braços" e pode "morrer afogado desnecessariamente", em referência aos que pedem mais rapidez
na queda dos juros.
No início da semana, ao participar
de um evento na cidade de Pelotas
(RS), Lula, de novo, discursou. Sob
vaias de alguns manifestantes contrários à reforma da Previdência, o
presidente assumiu tom acalorado e
respondeu a críticas endereçadas ao
governo por seu antecessor -que
chamou, num ato falho, de "sucessor". Disse que sua administração
recebeu um Brasil "quebrado" e voltou a pedir paciência: o governo não
deveria se comportar como um jogador de futebol que "pega a bola, não
olha para o lado, dá uma bicuda e
não marca o gol".
Independentemente de julgamentos sobre o estilo dos discursos presidenciais, chama a atenção não apenas a frequência com que acontecem
mas o fato de que comecem a contrariar frontalmente a realidade. Foi o
caso em Pelotas, quando Lula garantiu que seu governo daria um basta
no vaivém de políticos que trocam de
partido como "trocam de camisa".
Sabe-se que, desde a posse, a base
governista aumentou, num processo
que registrou inúmeras migrações
entre legendas.
Corre-se o risco de que o vazio de
resultados mais consistentes vá sendo preenchido por uma oratória cada
vez mais propensa a lançar mão de
mistificações populistas.
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