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REPÚBLICA DA PIZZA
Um dos homens mais ricos de
um país do Primeiro Mundo é
também seu dirigente. Pesam contra
ele gravíssimas acusações, que incluem lavagem de dinheiro, cumplicidade em assassinato, conexões
com a Máfia, evasão de impostos e
corrupção. Para evitar, porém, que o
líder sofra uma condenação num
momento em que ele estará em grande evidência mundial, seus aliados
no Parlamento aprovam a toque de
caixa uma lei que lhe confere imunidade, ainda que provisória.
Se isso tivesse acontecido num país
de Terceiro Mundo como o Brasil, o
rótulo "república de bananas" lhe seria impiedosamente pespegado. Como a nação onde se deram esses extraordinários acontecimentos é rica e
faz parte do Primeiro Mundo, recebe
um tratamento bem mais tolerante
por parte da comunidade e da mídia
internacionais.
Só que essa interpretação mais
branda não é capaz de apagar o caráter escandaloso do casuísmo que o
Parlamento italiano aprovou para
proteger o primeiro-ministro Silvio
Berlusconi, que também acumula o
posto de magnata da mídia local.
Seria por certo um exagero afirmar
que, com a aprovação da imunidade
para Berlusconi, a Itália deixa de ser
um país democrático, mas, por outro lado, parece evidente que as instituições locais, em especial a Justiça,
saem abaladas do episódio.
Essa não é a única contradição envolvendo o governo de Berlusconi.
Como cidadão, ele é dono de fato
-recentemente, transferiu a propriedade de alguns de seus negócios
a familiares- de vários jornais e de
três emissoras de TV. Como chefe de
governo, comanda as emissoras públicas. Isso basta para lhe dar o controle de pelo menos 90% das TVs do
país. A pergunta que fica é se, sob essas condições, resta espaço para a legítima crítica, um dos pilares da democracia. O fenômeno Berlusconi
revela que a riqueza material não é
garantia de instituições sólidas ou escolhas políticas sábias. Isso não deixa de ser um consolo para o Brasil.
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