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ELIANE CANTANHÊDE
Descabida
BRASÍLIA - Nós, os leigos, somos
uns tremendos ignorantes em direito e não conseguimos entender
por que o juiz auxiliar da 1ª Zona
Eleitoral de São Paulo, Francisco
Carlos Shintate, confunde entrevistas jornalísticas com peças promocionais de campanha.
Jornais e jornalistas vivem de notícias. Políticos devem satisfação do
que fazem e do que pretendem fazer. Logo, jornais e jornalistas têm o
dever, além do direito, de publicar
entrevistas com líderes políticos, e
os líderes políticos têm o direito,
além do dever, de dar entrevistas a
jornais e jornalistas. E tanto leitores de jornais e revistas como eleitores de todo o país têm o direito e o
dever de se informarem sobre os
candidatos. Parece simples assim.
Para o excelentíssimo juiz, não é
nada simples. Tanto que ele acaba
de impor uma multa a Marta Suplicy, à Empresa Folha da Manhã
S.A. (que edita esta Folha) e à revista "Veja", porque a ex-ministra fez
o que tinha de fazer, que era dar entrevistas, e os dois órgãos de imprensa também fizeram o que tinham de fazer, publicá-las.
A decisão do juiz é tão descabida,
tão surpreendente, que é preciso
um enorme esforço para discuti-la
a sério, o que, obviamente, se faz
aqui até em respeito ao juiz e a tudo
o que ele representa. Mas, que não
entra na cabeça, não entra.
Entre outras coisas, ele disse que
preservava "a igualdade entre todas
as pessoas". Sim, ok. Mas quem era
ministra e estava migrando para a
candidatura à mais importante capital do país não era a Joana, a Maria ou a Carminha. Era Marta Suplicy. Ela era, e é, um fato jornalístico relevante.
Já imaginou jornais e revistas
que não possam entrevistar políticos, candidatos e candidatas, nem
dizer o que eles fazem e pensam,
nem o que eles propõem, nem seus
acertos e erros? Sob o pretexto de
evitar a propaganda eleitoral antecipada, o juiz atacou não só a liberdade de imprensa mas também a de
expressão. E atingiu principalmente você, leitor e eleitor.
elianec@uol.com.br
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