São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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PENTADEVEDOR

A imagem do presidente do BC, Armínio Fraga, ostentando uma camisa da seleção brasileira com o registro de emissão de dívida externa nas costas em lugar do número do jogador, é mais um factóide do folclore econômico brasileiro.
Há pelo menos uma interpretação para a imagem. Ela sugere uma associação entre a competência do país que conquista o pentacampeonato mundial de futebol e as supostas habilidades do presidente do BC como craque das finanças.
É inegável que Fraga se esforça para jogar em novas posições. Vem fazendo lances totalmente diferentes do esquema tático conservador dos últimos anos. A bem-vinda redução dos juros é o mais evidente, contrariando expectativas e, para alguns, dando indícios de decisão política.
Outro lance de ousadia, que aliás contrasta com a retranca defensiva assumida pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, é sua agilidade no diálogo com candidatos e assessores de candidatos da oposição. Teve uma longa conversa com um dos principais assessores do PT, Aloizio Mercadante. Tudo isso como parte de uma estratégia voltada à criação de um acordo de transição entre o atual e o próximo governo que, a julgar pelas pesquisas, pode ser da oposição.
A questão da permanência do próprio Fraga à frente do BC, já assumida pelo candidato oficial, José Serra, é secundária mas não é irrelevante. Nas propostas de maior autonomia a bancos centrais, sempre teve destaque a não-coincidência de mandatos entre os dirigentes do BC e os representantes eleitos para o Executivo.
Fechar o acordo com o Fundo é uma condição para que Armínio Fraga conquiste o título de presidente do BC no próximo governo. Condição necessária, mas não suficiente.
Na semana que vem, esse jogo terá uma partida decisiva. Chega ao país a vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger. Os mercados anteontem reagiram com otimismo à notícia.
Na prática, os problemas talvez sejam muito maiores. Afinal, é o centro do capitalismo global, os EUA, que dá sinais dramáticos de fragilidade.


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