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TENDÊNCIAS/DEBATES
Ao reduzir a taxa de juros, a motivação do BC foi exclusivamente política?
NÃO
Medida favorece o próximo governo
JOSÉ ANÍBAL
É evidente que não há nenhum
viés político-eleitoral na decisão do
governo de reduzir a taxa de juros. Afirmar o contrário revela desconhecimento da economia brasileira ou, isto sim,
uma manipulação demagógica de uma
medida econômica que até agora era
defendida por aqueles que a criticam. A
responsabilidade fiscal, monetária e
cambial, tantas vezes criticada com veemência pela oposição, tem sido uma característica dos dois governos do presidente Fernando Henrique.
A transparência nas contas públicas é
fato reconhecido e elogiado internacionalmente. Pena que os mesmos críticos
nem sequer ruborizem quando distorcem dados que são de domínio público.
É o caso da taxa de juros e dos fatores
que a determinam.
Vamos aos fatos: é certo que o Copom
(Comitê de Política Monetária do Banco Central) tem seguido uma política
monetária relativamente conservadora
-no sentido econômico do termo, o
que significa prudente. A cautela chegou a ser questionada em muitas ocasiões, inclusive no PSDB. Isso fez com
que os profissionais do mercado financeiro, da indústria e de outros setores,
que anteriormente chegaram a reivindicar uma redução da taxa de juros, nesta
semana acreditassem que ela seria mantida em 18,5%. Por isso, a decisão chegou a ser qualificada de "surpreendente" por vários analistas. Daí a ser uma
decisão política vai uma distância abismal.
Uma redução da taxa de juros como a
decidida na quarta-feira não produz
efeitos importantes na economia no
curto prazo -antes das eleições, para
ser mais exato. Isso significa que, se o
Copom agisse eleitoralmente, teria tomado essa decisão há alguns meses,
quando certos indicadores de curto prazo eram até mais favoráveis que hoje.
Por que não o fez, então?
As respostas a essa pergunta (para
quem entende um mínimo de economia) estão nos documentos periodicamente divulgados pelo Banco Central.
Os dados contidos nesses documentos e
algumas decisões governamentais tomadas nas últimas semanas evidenciam
que o Copom pôde tomar a decisão que
tomou não em função dos índices de inflação, do comportamento das contas
externas, do resultado fiscal e da dívida
pública relativos a este ano, mas em função do que se pode prever a respeito deles para os próximos meses, em particular para o período posterior às eleições.
A redução da taxa de juros foi possível
devido à previsão de elevação do superávit fiscal, à melhoria do saldo comercial, à estabilização da dívida pública em
moeda estrangeira (redução, se não fosse o problema cambial, que é apenas em
parte consequência da situação das contas públicas domésticas e, ainda assim,
muito influenciada por absurdas declarações de certos candidatos), além das
metas de inflação para o próximo ano.
O uso responsável da transparência
permitiria aos críticos da medida ver
que ela reduz o impacto dos juros na dívida pública a vencer no próximo ano,
estimula a atividade econômica e, consequentemente, a arrecadação também
em 2003, entre outros efeitos.
Além disso, a ação do Banco Central
fez com que o montante da dívida a vencer nos primeiros meses do próximo
governo seja menor que o atual. Isso é o
contrário de certa tradição brasileira de
gastar antes das eleições e deixar a dívida para o governo seguinte. Infelizmente, há quem não reconheça esse fato, por
incompetência ou por má-fé.
O importante, contudo, é que a medida anunciada na última quarta-feira
aponta para uma reversão na onda de
pessimismo que pairava sobre a economia. Sem dúvida, ela favorece o próximo governo, seja ele qual for.
Mais: a redução segura e responsável
da taxa de juros e a manutenção da segurança econômica permitirão a retomada do crescimento econômico sustentado e, também, o prosseguimento
de um amplo e ambicioso programa de
inclusão social.
José Aníbal, 54, deputado federal, é presidente
nacional do PSDB e candidato ao Senado por
São Paulo. Foi secretário da Ciência, Tecnologia
e Desenvolvimento Econômico do Estado de São
Paulo (governo Mário Covas)
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