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TENDÊNCIAS/DEBATES
Ao reduzir a taxa de juros, a motivação do BC foi exclusivamente política?
SIM
Viés político
PAULO PEREIRA DA SILVA
A decisão do Copom, anunciada
na última quarta-feira, de baixar os
juros de 18,5% para 18%, foi, sim, eleitoreira. A decisão nos causa muita estranheza. Não há dúvida de que o corte na
taxa Selic foi uma interferência política
na economia. A taxa já podia ter sido
baixada havia pelo menos dois meses,
em situação de risco menor e sem consequências para a estabilidade econômica. Como de praxe, a equipe econômica preferiu manter a taxa alta.
Vale lembrar que já nas últimas duas
reuniões do Copom, ocorridas nos meses de maio e junho, tínhamos o seguinte cenário: redução da taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto)
de 2,5% para 2%, decréscimo da massa
salarial e decréscimo da meta de inflação nos últimos 12 meses. Diante de tal
quadro, não havia mesmo razão teórica
para manter a taxa de juros naqueles
patamares, mas mesmo assim a equipe
econômica preferiu mantê-la em 18,5%.
Foi muito estranha, portanto, esta redução de 0,5% na taxa de juros um dia
depois de pesquisa do Ibope apontar o
candidato da Frente Trabalhista, Ciro
Gomes, isolado em segundo lugar na
disputa eleitoral.
Fica evidente que a injeção de ânimo
que o Banco Central pretendia dar na
economia, na verdade, tem outra veia
certa: fortalecer o candidato do governo, que vem perdendo força, e, consequentemente, aliados. A queda da taxa
de juros criaria um efeito psicológico,
causando a confusa sensação de melhora nas condições de vida da população
brasileira.
O efeito da queda só será sentido, afirmam especialistas, daqui a seis meses.
Portanto essa seria apenas a criação de
um fator positivo para ser anunciado
pela equipe econômica, que prefere
atender interesses eleitoreiros em prejuízo dos interesses do país. Alerto ainda que a decisão não resultará em alterações radicais no comportamento da
economia.
A medida é, de certa forma, inócua,
pois as taxas de juros reais, adotadas pela chamada economia real, continuam
elevadas, desestimulando o consumo e
o crédito. Bancos e financeiras chegam a
cobrar 160% de juros ao ano. Uma das
maiores taxas do mundo, penalizando
quem precisa de crédito. Assim, entramos no terrível círculo vicioso de geração de miséria. As indústrias têm dificuldades para cumprir seus compromissos e cortam a folha de pagamentos.
O trabalhador sem salário não tem poder aquisitivo para consumir o que é
produzido, o que impede o necessário
giro de capital.
Sabemos -e há tempos temos cobrado o governo- que a economia brasileira não suporta mais os juros nesses
atuais patamares. A política de juros altos tem sido nociva ao país. O custo social é muito elevado, com forte desaquecimento econômico e desemprego assustador. É em razão dessa política econômica equivocada e excludente que as
micro e pequenas empresas não conseguem capital para crescer e, consequentemente, abrir novos postos de trabalho. É essa política de juros altos que alimenta o monstro do desemprego, que
martiriza cerca de 11,5 milhões de trabalhadores brasileiros. Só na região metropolitana de São Paulo, um em cada
cinco trabalhadores está sem emprego.
Essa política recessiva, que põe o país
à mercê dos especuladores, resulta na
miséria da população. Todos os dias, 33
milhões de pessoas ficam sem comida,
porque não têm nada para se alimentar.
É por isso que queremos mudar os rumos deste país. Precisamos baixar a taxa
de juros e acabar com essa injusta distribuição de renda.
Gostaria de ressaltar que a proposta
da Frente Trabalhista será de respeito à
ampla autonomia operacional do Banco Central, sem deixar que se perca o
princípio da responsabilidade política.
Não vamos permitir que o BC sirva à
primazia dos interesses financeiros em
detrimento dos interesses produtivos.
Vamos rever o sistema de "metas inflacionárias", para assegurar que o compromisso com o crescimento esteja aliado à estabilidade da moeda.
Deixo aqui uma pergunta: Será que os
trabalhadores querem a continuação
dessa política recessiva, voltada apenas
para os bolsos dos especuladores, ou
queremos a instabilidade com crescimento econômico, emprego e melhores
salários?
Paulo Pereira da Silva, 46, presidente licenciado da Força Sindical, é candidato a vice-presidente da República na chapa de Ciro Gomes, da Frente Trabalhista.
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