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Indio no ataque
Vice do candidato José Serra eleva o tom em declarações inoportunas, que apenas contribuem para baixar o nível da campanha eleitoral
Retirada do bolso do colete em
meio a uma série de trapalhadas
que ameaçava a aliança eleitoral
entre democratas e tucanos, a indicação do deputado Indio da
Costa para vice da chapa de José
Serra apanhou todos de surpresa.
Ilustre desconhecido no plano nacional, o político fluminense logo
se tornou alvo de desconfianças,
críticas e indefectíveis anedotas.
A seu favor no entanto pesavam
a juventude -tem 39 anos- e o fato de pertencer a um Estado relevante, no qual o nome do ex-governador paulista sempre encontrou dificuldades para se firmar.
Além disso, era providencial que
tivesse atuado como relator do
projeto Ficha Limpa, em contraponto ao envolvimento de seu
partido no escândalo do mensalão
do governo do Distrito Federal.
Não tardou para que o neófito
despertasse o sentimento paternal
do experiente tucano. No dia seguinte ao acordo com o DEM, Serra tratou de desmentir a suposta
fama de mulherengo do novo escudeiro. "Ele me disse por telefone: "Não tenho amantes". Eu até
disse: "Também não precisa exagerar". O que tem que ser é uma
coisa discreta", declarou em uma
sabatina promovida pela Confederação Nacional da Indústria.
Depois da lição pública sobre
como comportar-se em matéria de
relações íntimas, o peessedebista
prescreveu ao vice a leitura de alguns livros para que se familiarizasse com o pensamento do líder.
Recomendou quatro volumes,
três de sua autoria e um no qual
pontifica como entrevistado.
Não se sabe se Indio da Costa
debruçou-se sobre a lição de casa.
Certo é que se sentiu incentivado
-ou pelo menos desembaraçado- para responder de maneira
estridente uma provocação da rival Dilma Rousseff. A postulante
petista havia declarado que seu vice, o deputado Michel Temer, do
PMDB, não caíra do céu (algo de
fato incontestável, sob qualquer
ângulo que se queira analisar).
Indio sentiu-se ofendido e disse
que a adversária era uma "ateia" a
posar como "esfinge do pau oco".
Na sexta passada, em entrevista
a militantes tucanos, no site Mobiliza PSDB, o deputado carioca deu
mais um passo: afirmou que o PT
mantém ligação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia) e com o narcotráfico.
Alertou ainda para a possibilidade
de Dilma, uma vez eleita, "dar um
chute" no presidente Lula e governar com "as garras do PT".
É fato que militantes petistas
mantiveram relações com as Farc,
assim como é razoável acreditar
que, eleita presidente da República, Dilma se distancie de seu mais
famoso cabo eleitoral e constitua
seu próprio grupo no governo.
Tais considerações não bastam
para ocultar a evidência de que as
palavras do vice pretendem apenas fomentar temores e animosidades ideológicas em tom tosco e
ultrapassado, que contribui para
rebaixar o nível da campanha.
Após uma coreografia de tucanos e democratas para conter os
ânimos, Serra preferiu ontem
apoiar a declaração do pupilo em
vez de tentar recolocar a disputa
nos trilhos da civilidade.
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