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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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DE NOVO O TERROR

As duas brutais ações terroristas que atingiram ontem o Oriente Médio, apesar de aparentemente não-relacionadas, representam um duro golpe para os interesses norte-americanos na região.
No primeiro ataque, em que um caminhão-bomba explodiu diante do hotel que servia de sede à ONU em Bagdá, saem abalados os planos de Washington de proceder a uma ocupação curta no Iraque; no segundo, contra um ônibus em Jerusalém, é o processo de paz entre israelenses e palestinos patrocinado pelos EUA que sofre um perigoso revés.
A ação em Bagdá matou o principal representante da ONU no país, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, e vários outros civis, além de ferir dezenas. Embora ninguém tenha assumido responsabilidade pelo bárbaro atentado, a lista de suspeitos inclui iraquianos leais a Saddam Hussein e militantes de organizações terroristas que teriam acorrido ao Iraque depois da invasão norte-americana.
Nas últimas semanas, além dos ataques contra soldados dos EUA e do Reino Unido, registraram-se atos de sabotagem e ações contra alvos civis, no que parece configurar uma mudança de tática dos grupos que combatem os EUA no Iraque.
O Brasil, que costuma ser poupado das grandes ações terroristas, desta vez perde um representante ilustre. O brasileiro Sérgio Vieira de Mello era um diplomata em ascensão nos quadros da ONU. Depois de suas bem-sucedidas missões em Ruanda, Kosovo e Timor Leste, foi indicado para ocupar o importante posto de alto-comissário de Direitos Humanos das Nações Unidas, cargo que acumulava com o de enviado especial da ONU para o Iraque.
O atentado em Jerusalém, que matou cerca de duas dezenas de pessoas, incluindo várias crianças, embora não seja propriamente uma novidade, ocorre num momento bastante delicado e poderá comprometer os incipientes entendimentos entre israelenses e palestinos para a retomada do processo de paz.
Ações como as de ontem, que custam a vida de civis inocentes, são sob todos os aspectos condenáveis. Poucos poderiam esperar que um país militarmente ocupado, como o Iraque, não produzisse ativistas dispostos a reagir contra a ocupação. Da mesma forma, é compreensível a revolta palestina contra a ocupação de territórios por parte de Israel, dentro da dinâmica de ataques e retaliações que tem alimentado o conflito.
Nada disso, porém, justifica o terror. Os dois ataques servem para, mais uma vez, lembrar que esse é um grave problema internacional cuja solução mostra-se longínqua. O enfrentamento militar das organizações terroristas, ainda que necessário, não parece suficiente. É preciso acima de tudo procurar superar as condições políticas que estimulam e dão força ao terrorismo. Sem isso, a batalha estará perdida.


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