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DE NOVO O TERROR
As duas brutais ações terroristas que atingiram ontem o
Oriente Médio, apesar de aparentemente não-relacionadas, representam um duro golpe para os interesses norte-americanos na região.
No primeiro ataque, em que um caminhão-bomba explodiu diante do
hotel que servia de sede à ONU em
Bagdá, saem abalados os planos de
Washington de proceder a uma ocupação curta no Iraque; no segundo,
contra um ônibus em Jerusalém, é o
processo de paz entre israelenses e
palestinos patrocinado pelos EUA
que sofre um perigoso revés.
A ação em Bagdá matou o principal
representante da ONU no país, o
brasileiro Sérgio Vieira de Mello, e
vários outros civis, além de ferir dezenas. Embora ninguém tenha assumido responsabilidade pelo bárbaro
atentado, a lista de suspeitos inclui
iraquianos leais a Saddam Hussein e
militantes de organizações terroristas que teriam acorrido ao Iraque depois da invasão norte-americana.
Nas últimas semanas, além dos
ataques contra soldados dos EUA e
do Reino Unido, registraram-se atos
de sabotagem e ações contra alvos civis, no que parece configurar uma
mudança de tática dos grupos que
combatem os EUA no Iraque.
O Brasil, que costuma ser poupado
das grandes ações terroristas, desta
vez perde um representante ilustre. O
brasileiro Sérgio Vieira de Mello era
um diplomata em ascensão nos quadros da ONU. Depois de suas bem-sucedidas missões em Ruanda, Kosovo e Timor Leste, foi indicado para
ocupar o importante posto de alto-comissário de Direitos Humanos
das Nações Unidas, cargo que acumulava com o de enviado especial da
ONU para o Iraque.
O atentado em Jerusalém, que matou cerca de duas dezenas de pessoas, incluindo várias crianças, embora não seja propriamente uma novidade, ocorre num momento bastante delicado e poderá comprometer os incipientes entendimentos entre israelenses e palestinos para a retomada do processo de paz.
Ações como as de ontem, que custam a vida de civis inocentes, são sob
todos os aspectos condenáveis. Poucos poderiam esperar que um país
militarmente ocupado, como o Iraque, não produzisse ativistas dispostos a reagir contra a ocupação. Da
mesma forma, é compreensível a revolta palestina contra a ocupação de
territórios por parte de Israel, dentro
da dinâmica de ataques e retaliações
que tem alimentado o conflito.
Nada disso, porém, justifica o terror. Os dois ataques servem para,
mais uma vez, lembrar que esse é um
grave problema internacional cuja
solução mostra-se longínqua. O enfrentamento militar das organizações terroristas, ainda que necessário, não parece suficiente. É preciso
acima de tudo procurar superar as
condições políticas que estimulam e
dão força ao terrorismo. Sem isso, a
batalha estará perdida.
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