São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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A CRISE DA VARIG

Prolonga-se de modo preocupante o impasse em torno do encaminhamento de uma solução para a crise da Varig, a empresa de aviação brasileira que opera a maior rede de vôos internacionais. Dois possíveis desenlaces são indesejáveis: o fechamento da empresa ou uma operação de salvamento que implicasse sacrifício às contas públicas e permitisse que a direção da companhia prosseguisse nas mãos de seus atuais controladores.
O desaparecimento da Varig teria conseqüências danosas não apenas do ponto de vista do emprego -problema que poderia ser em parte compensado pela absorção por outras companhias de aviação dos trabalhadores dispensados. O fim da empresa também implicaria a perda de ativos importantes, como uma marca conhecida mundialmente e um faturamento anual, nas operações internacionais, que agrega mais de US$ 1 bilhão às contas externas.
Faria sentido, portanto, um processo de reestruturação da empresa orientado para soluções de mercado, o que não é nada simples. Nesse sentido, a participação do Estado deveria ser a mais transitória e transparente possível e ter como contrapartida garantias de um projeto novo e consistente de gestão da empresa. Em outros países operações desse tipo já foram realizadas no setor aéreo, que se caracteriza por uma demanda instável e por uma estrutura de oferta e de custos muito rígida -o que tende a exigir algum tipo de suporte público. Dentre as empresas que passaram por reestruturações com participação do Estado estão a SwissAir, a Alitalia, a Air France e a British Airways.
Isso não significa, em absoluto, que a Varig deva ser salva a todo custo e mereça privilégios negados às suas concorrentes. Seria intolerável se o governo viesse a estatizar a companhia ou a injetar recursos numa daquelas clássicas e perdulárias operações de salvamento que o país já teve oportunidade de presenciar.
O que cabe ao governo é tentar criar uma regulamentação para o setor que, sem sacrificar a concorrência, o torne mais atraente a novos investidores, os quais poderiam, em conjunto com credores, assumir a Varig.


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