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ELIANE CANTANHÊDE
O passado e o futuro
BRASÍLIA - O arquiteto e professor Frank Svensson, que completa 70
anos em setembro, foi expulso da
UnB em 1971 pelo famigerado decreto 477 -"o AI-5 das universidades".
Depois de 18 anos entre Suécia,
França, Angola e Argélia (neste caso
envolvido com projetos do mestre Oscar Niemeyer), esse filho de suecos,
pai de um baiano, finalmente voltou
ao Brasil e a Brasília, onde mora placidamente até hoje.
Na noite de quarta-feira, ele foi paraninfo da turma de Arquitetura e
Urbanismo deste semestre na UnB.
Quem foi humilhado há mais de 30
anos pelo poder do passado foi homenageado pelo poder do futuro.
Chegou atrasado, pediu desculpas e
fez um discurso sem gestos nem grandiloqüência, mas com o principal:
conclamando os jovens formandos a
jamais perderem de vista sua responsabilidade social. Um professor apaixonado, uma figura apaixonante.
"Eu fui acusado de tentar organizar o Partido Comunista na UnB",
disse-me. Espremendo os olhos azuis
numa expressão sapeca, completou:
"E estava mesmo!".
Cabelos brancos, pele avermelhada
adequada à imagem que se tem dos
suecos no Brasil, o professor Frank é
um bom exemplo de como foram duros os tempos no Brasil da ditadura
militar. E de como a anistia, mesmo
não sendo ampla, nem geral, nem irrestrita num primeiro momento,
acabou serenando os ânimos e garantindo a transição tranqüila até se
chegar à paz política de hoje.
O primeiro projeto de anistia, imperfeito, foi aprovado sob aplausos,
vaias e gritos de "o povo, unido, jamais será vencido", em 22 de agosto
de 1979. Lá se vão 25 anos. A homenagem da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da UnB ao velho professor, portanto, vem em boa hora.
Nunca é tarde (e nunca é demais)
para reafirmar conquistas como direito, liberdade, justiça. Porque parece tudo tão distante, mas ao mesmo
tempo tão inquietantemente perto.
Votos de que os jovens do professor
Svensson virem bons arquitetos. Mas
sejam, sobretudo, bons cidadãos.
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