São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Aplausos e perguntas

SÃO PAULO - Parabéns aos governos de São Paulo e da União pela iniciativa de tentar asfixiar financeiramente o PCC.
Cabem algumas observações:
1 - Por que o poder público brasileiro é geralmente tão lerdo?
Ajuda-memória: em maio, houve a primeira ofensiva do PCC, a mais espetacular de todas. Diante dela, no dia seguinte, os agentes do Estado (e da União, obviamente) deveriam sentar-se à mesa e determinar a asfixia. Só agora, três meses depois, vão começar a tentar.
Não era necessária "expertise" na matéria, pela obviedade dela. Havia até o antecedente norte-americano, que partiu para esse tipo de conduta como resposta aos atentados do 11 de Setembro. E os ataques do PCC têm características de terrorismo, destituído de vernizes políticos, ideológicos ou religiosos.
2 - Quantos séculos vai levar para o bloqueio financeiro se tornar de fato eficaz? Se o poder público leva três meses para acordar, é justo supor que levará três anos para sair da cama, até porque, logo, logo, passam as urgências eleitorais, que parecem ser as únicas a de fato espicaçar autoridades.
3 - Qual é o complemento jurídico? Explico, embora seja óbvio: não basta suspeitar ou dizer que fulano de tal é membro do PCC e, portanto, suas contas serão bloqueadas. Inúmeras CPIs produziram catataus de denúncias ou suspeitas sobre uma penca de pessoas, mas só uma fração mínima foi presa ou sofreu qualquer outra punição. O poder público tem poder e competência investigativa não só para chegar às contas mas também para apresentar elementos de prova que convençam o Judiciário a bloqueá-las? O Judiciário, por sua vez, tem agilidade para verificar as provas e tomar decisões rápidas em conseqüência?
Mais do que nunca, é hora de verificar se o poder público, fonte de grande parte do problema, consegue ser também a solução.


crossi@uol.com.br

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