|
Próximo Texto | Índice
FORA DOS TRILHOS
A privatização das ferrovias inspira
preocupações. E é o próprio governo
que reconhece a situação.
O ministro dos Transportes, Eliseu
Padilha, já advertiu as empresas que
agora administram a malha ferroviária federal, mas não cumpriram as
metas de produção estabelecidas nas
concessões. Não parece suficiente.
Empresas que consideraram as metas absurdas não disputaram o negócio. Transigir nas metas cria um precedente que pode não apenas revestir
de injustiça o leilão de venda como,
pior, projetar dúvidas sobre outras
privatizações, em outros setores.
Para tornar o episódio ainda mais
polêmico, o ministério autorizou um
reajuste de até 4,07% para as tarifas
da ferrovia Novoeste, apesar do descumprimento de metas contratuais.
Há uma carga enorme de expectativas sobre as privatizações. É crucial
encaminhá-las com transparência,
cercá-las de cuidados jurídicos, mas,
também importante, cuidar do "day
after", como condições não apenas
de legitimidade, mas de eficiência.
Em setores-chave a privatização está apenas começando e, como em todo aprendizado, fatalmente há erros.
O perigo, entretanto, é transigir indevidamente, criando precedentes
que não só prejudiquem a credibilidade da privatização como diminuam seus benefícios econômicos.
Advertências no "Diário Oficial"
da União já haviam sido publicadas,
entre setembro de 97 e maio deste
ano. Em agosto de 98, esperava-se do
governo mais do que a mera reiteração de advertências.
O caso das ferrovias é lamentável,
ademais, porque a privatização no
setor ocorreu sem uma agência reguladora. A Agência Nacional de Transportes ainda é uma promessa.
Um órgão regulador, sujeito a normas transparentes e com critérios de
atuação bem discutidos, talvez reduzisse o espaço para arbitrariedades,
que serão mais graves na medida em
que a supervisão de contratos fique
na mão de políticos, que nem sempre
ocupam ministérios movidos apenas
pela defesa do bem comum.
Próximo Texto | Índice
|