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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A mágica dos pequenos gestos
Esperamos todos grandes mudanças. E com razão. Mas, enquanto não acontecem, temos de perceber o sofrimento dos milhões de
brasileiros que carecem do necessário
à vida. São múltiplas as causas. O que
mais preocupa é o alto índice de desemprego. É um drama, aliás, que
atinge os vários níveis da sociedade
em quase todos os países.
A falta de trabalho acarreta o empobrecimento, cada vez maior, e acaba
gerando a mendicância, o desespero e,
infelizmente, o incremento do narcotráfico e de outras pseudo-soluções
que degradam a pessoa humana.
Nos últimos meses, como fruto de
um sistema que aumentou a desigualdade social e a exclusão, tem havido
graves restrições para a economia familiar, que afetam não só os mais pobres, mas até os que tinham alcançado
um certo equilíbrio entre salário e custo de vida. São fatores significativos do
desequilíbrio na economia familiar o
aumento do preço do botijão de gás,
da conta de luz, do arroz, dos remédios e dos transportes e a enorme perda de poder aquisitivo do salário mínimo. Isso vem acarretando a contenção de gastos, o atraso nos pagamentos e a perda progressiva da alegria
contagiante de nosso povo.
Sabemos que nossos dirigentes estão se empenhando para resolver os
problemas complexos que até hoje
permanecem sem a devida solução.
Além dos desacertos internos do país,
há inúmeras pressões e dependências
internacionais que agravam ainda
mais a situação. Temos de reconhecer
que várias iniciativas têm sido empreendidas. Basta recordar a série de
medidas para superar a miséria e a fome, acelerar a alfabetização e oferecer
incentivos aos pequenos agricultores.
Acalentamos a esperança de ver, em
breve, os efeitos do Fome Zero. Isso
requer, porém, a difícil conjugação de
esforços entre os dirigentes em nível
municipal, estadual e da União e as
demais forças vivas da sociedade para
promover políticas públicas adequadas. Temos muito que progredir no
reto discernimento das metas e na articulação de esforços para atender, o
quanto antes, à expectativa do povo.
Há, no entanto, uma cooperação
pessoal, familiar e comunitária que é
fundamental e não pode faltar para o
encaminhamento de uma solução definitiva do problema da desigualdade
e da injustiça social. Trata-se de uma
atitude interior a cada pessoa na compreensão das exigências da cidadania
e, mais ainda, da fraternidade cristã. É
o compromisso com a promoção dos
outros. Precisamos vencer o individualismo doentio e a busca de vantagens só para os próprios familiares e
amigos e abrir-nos a uma atitude humanitária que se estenda a todos, a começar pelos mais necessitados.
O exemplo das primeiras comunidades cristãs leva-nos a redescobrir a
alegria da partilha fraterna, a fim de
que ninguém passe necessidade. Aqui
entra em cena a mágica dos pequenos
gestos de solidariedade. Se cada um de
nós souber partilhar com os outros o
que recebemos de Deus, não faltará
nada para ninguém. São gestos modestos e discretos de auxílio ao próximo. Quem tem mais partilhe mais. A
mágica não está apenas na rápida e
maravilhosa multiplicação do atendimento aos necessitados, mas na progressiva transformação do nosso modo de agir. Vamos, então, aprender
que a solução dos graves problemas
sociais começa pela conversão de nossas atitudes. A sociedade, já nesta terra, será não só justa, mas feliz. É isto
que Jesus Cristo nos ensinou: a alegria
maior é a de quem dá (Atos, 20, 35).
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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